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QUEM NASCE CROOKE(D)...
Doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais - E-Poster
Congresso ID: P279 - Resumo ID: 1846
Centro Hospitalar de Lisboa Central
Miguel Martins, António Mesquita, Mariana Silva, Catarina Patrício
Introdução: O caso relatado demonstra a importância de não assumir que todos os casos de hipertensão arterial (HTA) são essenciais. O estudo de causas secundárias, particularmente em doentes jovens, é indispensável e evita complicações irrecuperáveis.

Caso clínico: Homem de 36 anos, com HTA diagnosticada há 2 anos. Recorreu ao serviço de urgência do nosso hospital por quadro de dispneia progressiva para pequenos esforços, ortopneia, dispneia paroxística noturna, bendopneia, sudorese profusa e dor inespecífica na base do hemitórax direito. Referia ter deixado de fazer medicação anti hipertensora há 8 meses por ineficácia da terapêutica. O doente, obeso, sudorético, apresentava uma tensão arterial sistólica de 201 e diastólica de 152 mmHg, com uma frequência cardíaca de 135 batimentos por minuto, apirético, sem sopros ou extra-tons audíveis à auscultação cardíaca e auscultação pulmonar sem ruídos adventícios, nomeadamente fervores. Do estudo efetuado em contexto de urgência, destaca-se enfarte agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST, lesão renal, com creatinina de 3.90 mg/dl e sem registos anteriores para comparação. A gasometria era compatível com alcalose metabólica, associada a hipocaliemia (2.7 mmol/L). O ecocardiograma mostrou alterações que motivaram um pedido de painel genético para exclusão de doenças infiltrativas, como a doença de Fabry. A fundoscopia mostrou edema papilar bilateral, com exsudados bilaterais. O quadro sugeria um episódio de Hipertensão Maligna e o doente ficou internado para tratamento e estudo etiológico de provável HTA secundária.
Em contexto de internamento, foi realizada a restante história clínica. A história da doença foi preponderante para guiar a marcha diagnóstica: desde há 4 anos, ganho ponderal significativo de 25%, apesar da instituição de medidas dietéticas e de exercício físico; há 2 anos, diagnóstico de HTA, que mantinha valores muitos elevados apesar de cumprir a medicação; há 1 ano, diagnóstico de insulinorresistência e esteatose hepática; durante o ano atual, equimoses frequentes para traumatismos minor e onicomicose. Do EO, destaque para pletora facial, a obesidade central e o pescoço de búfalo. A hipótese de HTA renovascular, a principal causa de HTA secundária, foi excluída após realização de eco-doppler das artérias renais. Foram colocadas como hipóteses mais prováveis causas endocrinológicas, nomeadamente, hiperaldosteronismo primário, feocromocitoma e síndrome de Cushing. O restante estudo efetuado levou-nos ao diagnóstico de síndrome de Cushing ACTH-dependente, provocado por um raro e muito agressivo adenoma corticotrófico da hipófise, o adenoma de células de Crooke.

Conclusão: A lesão excisada por cirurgia transfenoidal e HTA tem está controlada, com a diminuição progressiva de medicação. Contudo, as taxas de recidiva deste tumor são altíssimas. Para além, as lesões renais e oftalmológicas deste doente serão difíceis de reverter.