Nuno Maia das Neves, Susana Carvalho Coelho, Alexandra Bayão Horta, João Sá
Introdução
A tuberculose osteo-articular representa cerca de 10% dos casos de tuberculose extrapulmonar, sendo que destas 50 a 60% se localizam na coluna vertebral. A sua patogénese está relacionada com a disseminação hematogénea ou a partir de gânglios linfáticos paravertebrais adjacentes. Nos adultos, habitualmente, a coluna dorsal inferior e lombar superior são as regiões mais frequentemente acometidas. Se a infecção se mantiver, pode haver formação de abcesso que, no caso de infeção na região dorsal baixa ou transição dorso lombar, poder-se-á estender, mais habitualmente, através da bainha do músculo psoas até à região inguinal.
Caso Clínico
A imagem de tomografia computorizada (TC) da coluna dorso-lombar apresentada é referente a uma doente de 42 anos, natural do Brasil, residente em Portugal há 10 anos. Trata-se de uma doente com queixas, há cerca de um ano e meio, de dor referida à região lombar, sem irradiação ou défices neurológicos associados que, no mês anterior, desenvolveu uma tumefação dolorosa com sinais inflamatórios a nível da região lombo-sagrada direita. Nesse contexto terá sido observada pelo seu médico assistente que solicitou a realização de TC da coluna lombar, a qual descreveu a presença de uma volumosa coleção com origem em espondilodiscite de L1-L2, eventualmente de natureza específica, que se desenvolvia ao longo do músculo psoas direito, com extensão crânio-caudal de 17 cm, com extensas alterações destrutivas de elementos vertebrais nessa mesma localização. À parte as queixas álgicas, a doente negava febre, anorexia, sudorese noturna, emagrecimento ou queixas respiratórias; analiticamente sem alterações a salientar. Foi realizada drenagem guiada por TC do abcesso, cujo estudo evidenciou cultura positiva com identificação de Mycobacterium tuberculosis. Como tal, foi iniciada terapêutica quádrupla com anti-bacilares e a doente foi referenciada ao Centro Diagnóstico Pneumológico da área de residência e à nossa consulta.
Apesar da sensibilidade documentada aos quatro anti-bacilares iniciados, a doente evoluiu com agravamento da tumefação lombo-sagrada, acompanhado por dor localizada. A nova TC realizada cerca de 3 semanas após o início da terapêutica, mostrava aumento das dimensões do abcesso paravertebral ao longo da bainha do músculo psoas, com dissecção ao longo desta e do tecido celular subcutâneo na região lombar. Para alivio sintomático, optou-se pela drenagem percutânea da tumefação, procedimento pouco realizado na ausência de compromisso neurológico, dada a efetividade da terapêutica anti-bacilar e risco de fistulização inerente ao procedimento.
Conclusão
Este caso serve para relembrar o curso insidioso que, frequentemente, a doença tuberculosa apresenta, sendo necessário um elevado nível de suspeição para o seu diagnóstico. Além disso, é importante ter em conta que, mesmo após o início de tratamento eficaz, as lesões induzidas pela longa evolução da infeção podem não ter resolução imediata.