Joana Couto, Luís Pontes dos Santos, Raquel Afonso, Raquel López, Diana Guerra
Introdução: Os antibióticos (ATB) têm papel fulcral no controlo e tratamento de doenças infeciosas desde a sua descoberta. Contudo, a sua eficácia é agora posta em causa pela problemática da multirresistência bacteriana (MRB).
Objetivos: Avaliar o conhecimento, atitude e práticas relativamente aos ATB e MRB.
Métodos: Adaptação para português do questionário da OMS “Antibiotic Resistance: Multi-country Public awareness survey” (2015). Preenchimento do questionário com 40 perguntas na população presente na sala de espera da consulta hospitalar (CH) de Janeiro a Março 2018.
Resultados: Participaram 355 indivíduos, 64% do sexo feminino, com idade média de 46 anos e predomínio do escalão etário 35-65 anos (59%). Verificou-se que 63% viviam em zona rural, sendo a maioria casados (63%). Quanto às habilitações, 44% completou o ensino secundário e 18% o ensino superior. O agregado familiar mais comum era composto por 2 adultos e menor/es (36%). 39% dos doentes tinham tomado ATB nos 6 meses anteriores, dos quais metade no último mês. Em 92% o ATB foi prescrito pelo médico, sendofornecidas indicações de toma em 96% (cumpridas por 94%), a maioria adquirido na farmácia (83%). Consideraram incorretas as atitudes de toma de ATB receitados a familiares 92% e de ATB prescritos anteriormente pelo médico 83%. Quanto às aplicações dos ATB, número elevado considerou gripe (38%) e dor de garganta (38%) como tratáveis com ATB. Já a gonorreia e infeções de pele, apenas em 14% e 35% respetivamente foram assinaladas para uso de ATB. Relativamente à terminologia de MRB, 64% reconheceu “resistência a antibióticos” e 44% de “bactérias multirresistentes”, mas apenas 11% identificou “resistência microbiana”. 88% considerou que a MRB é um problema que afeta Portugal e 77% admite atingimento mundial, 91% acredita que o mecanismo subjacente se deve à aquisição de resistências do doente aos ATB. De realçar, que 42% acha a MRB um problema de quem toma ATB regularmente e 54% considera que as bactérias MR não se transmitem de pessoa para pessoa e que não correm risco de infeção MR desde uso dos seus ATB corretamente. Destaca-se de forma positiva: 93% pensam que ATB só deve ser tomado com indicação médica e 99% é pró-vacinação. Apesar de 97% crer que todos sob ATB devem ser responsáveis na sua utilização, 96% considerou não ter qualquer papel no controlo do problema. Verificou-se maior conhecimento das indicações de ATB e compreensão do problema de MRB no grupo mais instruído. É o escalão etário > 65 anos que menos ATB faz e melhor cumpre as suas indicações.
Discussão: Comparativamente aos resultados do questionário noutros países (México, India, Rússia, China, Hong Kong, etc), o mais semelhante ao nosso foi o de Hong Kong, talvez por ter nível de desenvolvimento humano (IDH) mais próximo do português na área da saúde. Apesar do mediatismo associado à MRB os resultados mostram margem para melhoria, sendo importantes medidas de sensibilização para a MRB e a aplicabilidade dos ATB.