Francisco Pulido Adragão, Natacha Silveira, Carla Leitão, Helena Rita, Luísa Arez
INTRODUÇÃO:
Os sintomas e sinais de hipertensão pulmonar (HTP) podem ser difíceis de reconhecer, uma vez que são inespecíficos, sendo uma doença com diagnóstico tardio perante clínica grave e irreversível.
CASO CLÍNICO:
Mulher caucasiana de 67 anos, autónoma nas atividades de vida diária, ex-fumadora, com antecedentes pessoais conhecidos de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e dislipidémia, medicada com Metformina e Linagliptina, Azilsartan e Pentoxifilina. Por quadro de dispneia e cansaço progressivo para médios e pequenos esforços, com 2 semanas de evolução, foi encaminhada ao serviço de urgência, pelo seu Cardiologista particular, após realização de ecocardiograma transtorácico no qual se destacava dilatação das cavidades direitas do coração, movimento paradoxal do seio intraventricular, e dilatação importante da artéria pulmonar acompanhada de hipertensão pulmonar.
Perante as alterações detetadas, foi internada com o diagnóstico de HTP para estudo diferencial. No internamento realizou investigação de acordo com os 5 grupos de classificação da Organização Mundial de Saúde:
- 1º grupo – HTP idiopática – sem história familiar, sem história de consumos, serologias negativas, sem alterações do tecido conjuntivo;
- 2º grupo – HTP por doença cardíaca esquerda - detetada comunicação interauricular; sem insuficiência mitral, estenose aórtica, ou insuficiência do ventrículo esquerdo;
- 3º grupo – HTP por doença pulmonar – sem distúrbios de doença pulmonar crónica ou intersticial;
- 4º grupo – HTP por tromboembolismo crónico – com tromboembolismo pulmonar periférico detetado em cintigrafia de ventilação/perfusão;
- 5º grupo – HTP por mecanismos multifatoriais pouco esclarecidos – sem alterações detetadas em estudo inicial.
No decorrer do estudo e por ausência de melhoria clínica da doente, foi contactada uma unidade diferenciada em HTP, tendo a doente sido transferida para orientação clínica e terapêutica após diagnóstico de HTP por tromboembolismo pulmonar periférico, em doente com comunicação interauricular.
DISCUSSÃO:
O processo subjacente da hipertensão pulmonar varia de doente para doente e, com frequência, múltiplos fatores são responsáveis pela clínica. A avaliação diagnostica é complexa dada as múltiplas patologias que originam HTP, sendo essencial um diagnóstico final, visto o tratamento ser direcionado à causa.
Trata-se de uma doença progressiva, mortal se não tratada, com o seu prognóstico a variar de acordo com a etiologia subjacente - o 1º grupo (HTP idiopática) apresenta pior prognóstico comparativo, com e sem tratamento.
No caso específico desta doente, embora iniciada terapêutica direcionada, evoluiu desfavoravelmente com agravamento progressivo da insuficiência respiratória. Acabou por realizar lobectomia, mas sem reposta clínica adequada e com agravamento progressivo, faleceu, sem diagnóstico etiológico definitivo, após episódio de hemorragia pulmonar massiva.