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QUANDO UM ACHADO COMUM ESCONDE UM DIAGNÓSTICO RARO
Doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais - E-Poster
Congresso ID: P290 - Resumo ID: 1863
Medicina 7.2, Hospital Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central
Matilde Fraga, Jorge Fernandes, Rui Barata, Mário Ferraz, Paolo Iacomini, Mariana Popovici, Ana Raquel Pinto, Ana Catarina Rodrigues, Catarina Pereira, António Panarra
Introdução: A hiponatrémia é o desequilíbrio iónico mais comum na população em geral e em doentes hospitalizados obrigando a uma anamnese, exame objetivo e meios complementares de diagnóstico rigorosos para correta determinação da etiologia. O hipopituitarismo é relativamente raro (incidência de 4.2/100.000/ano e prevalência 45.4/100.000) e é frequentemente sub-diagnosticado, principalmente nos idosos, pelo quadro clínico inespecífico tendencialmente atribuído ao envelhecimento, comorbilidades e polimedicação. O presente caso retrata o diagnóstico de hipopituitarismo que se apresentou com hiponatrémia grave. Caso clínico: Mulher, 86 anos, previamente autónoma, com hipertensão arterial essencial e dislipidémia medicadas e controladas. Com internamento recente por astenia, adinamia e queda não presenciada que se atribuiu a hiponatrémia grave (nadir 112mmol/L) em contexto provável de terapêutica com diuréticos tiazídicos tendo tido alta com natrémia 123mmol/L. Foi transportada ao Serviço de Urgência (SU) umas horas depois por mal estar inespecífico, cefaleia holocraniana e episódio de vómito isolado pós-prandial. No SU com períodos de desorientação, documentando-se natrémia de 121mmol/L, sendo reinternada para estudo. Por se encontrar sintomática, iniciou fluidoterapia hipertónica para reposição lenta da natrémia, sem sucesso. Foi então iniciada marcha diagnóstica para procurar causa alternativa, já que a hiponatrémia associada a tiazídicos corrige no máximo 15 dias após a sua suspensão. Perante hiponatrémia hipotónica (sem hiperglicémia, hiperlipidémia, hiperproteinémia ou acumulação de outros osmóis exógenos), com função renal preservada e sem toma actual de tiazídicos, avaliou-se a osmolalidade urinária como medida de resposta reguladora da perda de electrólitos. Uma vez que a osmolaridade urinária e o sódio urinário eram elevados para o esperado, suspeitou-se de Síndrome de Secreção Inapropriada de Hormona Anti Diurética (SIADH). Na avaliação etiológica, e para excluir causa endócrina, foram pedidos doseamentos hormonais, que mostraram valores abaixo do normal de TSH, ACTH, LH, FSH, IGF1, FT3, FT4 e cortisol, com prolactina normal. Assumido hipopituitarismo, a doente iniciou hidrocortisona e levotiroxina com remissão dos sintomas e normalização da natrémia. Foi referenciada a consulta de Endocrinologia e aguarda ressonância magnética hipofisária. Discussão: O caso ilustra a importância de uma marcha diagnóstica adequada, sem descurar as causas raras, mesmo na abordagem das situações mais comuns, uma vez que a correta identificação da etiologia pode fazer a diferença na abordagem terapêutica, que é bastante eficaz, e deste modo frenar os sintomas que neste caso já tinham repercussão na autonomia da doente. Para além disso, não devemos esquecer-nos que a hiponatrémia pode ser a única manifestação de hipopituitarismo e que este acarreta uma maior taxa de mortalidade.