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PELA BOCA MORRE O PEIXE: A SONDA NASOGÁSTRICA COMO CAUSA DE HEMORRAGIA DIGESTIVA
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P228 - Resumo ID: 1868
Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho
Rita Amorim Costa, Raul Neto, Isabel Taveira, Pedro Salvador, Paula Castelões
Sexo feminino, 42 anos, com antecedentes de hipertensão não complicada e hábitos etílicos não quantificados, admitida na unidade de cuidados Intensivos (UCIP) na sequência de choque séptico com ponto de partida em pneumonia a gripe A complicada de doença pneumocócica invasiva (bacteriémia). Progrediu com disfunção multiorgânica, nomeadamente cardiovascular, respiratória, renal e hematológica com necessidade de ventilação mecânica invasiva à admissão.
O internamento na UCIP foi complicado por múltiplas intercorrências, a destacar lesão renal aguda oligúrica com acidemia metabólica e com necessidade de técnica de substituição renal contínua; posteriormente falência hepática iatrogénica a anticoagulação regional com citrato. A doente apresentou melhoria progressiva com resolução das disfunções referidas, suspensão de técnica dialítica, embora com falência respiratória persistente a impedir desmame ventilatório.
Após os eventos descritos a doente manteve-se apenas com dispositivo de compressão mecânica para profilaxia tromboembólica e sob inibidor da bomba de protões (IBP). No dia 24 de internamento, identificada hemorragia digestiva alta com choque hemorrágico, pelo que foi submetida a estudo endoscópico com identificação de úlcera longitudinal no corpo proximal da grande curvatura com coágulo aderente (forrest IIB), sem outras alterações da mucosa do fundo e antro gástrico. Foi retirada sonda de alimentação entérica, realizada perfusão de IBP e alterada estratégia (temporariamente) para nutrição parentérica.
Não obstante o elevado risco de úlcera no contexto descrito, e de acordo com as características da úlcera, foi assumida etiologia traumática por sonda de alimentação. A doente evoluiu favoravelmente com estabilidade hemodinâmica e sem novos episódios de hemorragia digestiva no internamento.
A utilização de sonda nasogástrica para alimentação entérica é um procedimento considerado rotineiro e seguro pela maioria dos profissionais de saúde. No entanto, nenhum procedimento é totalmente desprovido de risco, são exemplos, a errada inserção da sonda com perfuração brônquica, hemorragia nasofaringea traumática, pneumonia de aspiração, entre outros.
A etiologia traumática pode ser um diagnóstico difícil, em particular em situações clínicas como a descrita em que se identificam múltiplos factores de risco para doença ulcerosa.
Este caso pretende alertar para uma potencial complicação, que ainda que rara, quando presente, se afigura grave e ameaçadora de vida.