Josiana Duarte, David Campoamor, Tiago Fiúza, Paula Pestana, Henrique Rita, José Sousa e Costa
A neoplasia do pulmão é a segunda mais frequente em todo o mundo, apenas ultrapassada pela neoplasia da próstata nos homens e da mama nas mulheres. Em Portugal é a neoplasia com maior mortalidade e com variação geográfica significativa (com maior mortalidade nos Açores, seguido de Algarve, área metropolitana do Porto, Alto Minho, área metropolitana de Lisboa e Alentejo Litoral), segundo os dados do programa nacional para as doenças oncológicas de 2017 da direção geral de saúde.
Apresenta-se um estudo retrospetivo incluindo todos doentes diagnosticados com neoplasia maligna da traqueia brônquios e pulmão (código ICD-9 162.0-162.9) num Hospital entre 2014-2018 (5 anos), cujo objetivo é avaliar as caraterísticas demográficas e clínicas destes doentes, bem como a sua sobrevida.
Obtivemos uma amostra de 70 doentes, 9 do sexo feminino, 61 do sexo masculino com uma média de idade de 72 anos. Dos 70 doentes, em 12 não foi possível obter diagnóstico histológico por não apresentarem condições clínicas para procedimentos invasivos de diagnóstico. 74% dos doentes apresentavam carcinoma não de pequenas células -CNPC (n= 43; 17 carcinoma-pavimento celular -CPC, 26 adenocarcinoma-ADC), 21% eram carcinoma de pequenas células (n=12), 1 doente apresentava carcinoma pleomórfico (CPC + ADC) e 2 doentes apresentavam carcinoma pouco diferenciado. 11 doentes eram não fumadores (7 homens, 4 mulheres), 1 deles trabalhador na petroquímica, 2 carpinteiros, 1 pedreiro, 1 estivador no porto de carvão e os restantes sem fatores de risco ocupacionais conhecidos. Em relação à carga tabágica expressa em UMA dos restantes 59 : mín 2 (sendo que essa doente apresentava exposição a poeiras numa indústria pecuária) e máx 156, com média de 55. O performance status à apresentação foi de 24% zero, 49% um, 8% dois, 7% três e 12% quatro. O estadio à apresentação foi de 64% IV, 15% IIIB, 15% IIIA, 4% doente IIB e 2% IB. Não houve predominância entre os concelhos estudados. Obteve-se uma taxa de mortalidade de 89%, com uma sobrevida média de 7 meses.
Em consonância com os resultados mundiais o fator de risco predominante foi o tabagismo, assim como uma preponderância histológica dos CNPC. Há no entanto um achado preocupante! A taxa de mortalidade foi bastante mais elevada nesta amostra do que os dados portugueses de 2015 (24.9 vs 89%) o que se deve provavelmente ao fato de a grande maioria dos doentes desta amostra se apresentar em estadios bastante avançados da doença, sendo que em apenas 11% dos casos foi possível o tratamento cirúrgico. Seria interessante num próximo estudo analisar o porquê do diagnóstico em fases tão tardias ... para que...não seja tarde demais.