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MÃOS FRIAS, FÍGADO QUENTE: A PROPÓSITO DE UM GOLPE DE CALOR
Doenças hepatobiliares - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO092 - Resumo ID: 1883
Centro Hospitalar do Baixo Vouga, Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Centro Hospitalar Universitário do Porto
Fani Ribeiro, Mário Bibi, Eduarda Pena, Marta Pereira, Sofia Ferreira, Helena Pessegueiro Miranda, Rui Araújo
Introdução: O golpe de calor é uma síndrome clínica caracterizada por hipertermia e disfunção neurológica que ocorre devido à falência dos mecanismos termorreguladores corporais. Pode evoluir rapidamente para disfunção multiorgânica, por vezes com envolvimento hepático, cuja expressão de maior gravidade é a falência hepática.
Caso Clínico: Homem de 53 anos, com antecedentes de dislipidemia e consumo etílico de 100g/dia, sem doença hepática crónica previamente conhecida. Teve exposição prolongada ao sol em contexto laboral, com uma temperatura local de 33ºC, com instalação progressiva de mal estar generalizado, que culminou em colapso. Admitido na sala de emergência entubado e ventilado por disfunção neurológica (Escala Coma Glasgow 6), hipotenso, com má perfusão periférica e com temperatura auricular de 39.9ºC. Do estudo analítico inicial destacava-se acidemia metabólica grave com hiperlactacidemia, lesão renal aguda, e perfil hepático com elevação ligeira da TGP, sem outras alterações, nomeadamente da enzimologia cardíaca ou coagulação. TC cerebral, ECG, ecocardiograma e angio-TC toraco-abdominopélvica sem alterações de relevo. Encaminhado para o Serviço de Medicina Intensiva por golpe de calor com disfunção multiorgânica, para medidas de suporte e arrefecimento corporal. Apesar de melhoria das disfunções cardiocirculatória, renal e neurológica, a permitir extubação precoce, verificou-se franco agravamento da lesão hepática aguda, com evolução para coagulação intravascular disseminada e necessidade de transferência para centro de transplantação hepática ao 3º dia (MELD 27). Ecodoppler abdominal normal, estudo imunológico e pesquisa de vírus negativos. A partir do 5º dia, verificou-se melhoria progressiva do perfil hepático e da coagulação, mantendo-se sem encefalopatia, tendo evoluído sem necessidade de técnica de depuração hepática ou transplante hepático.
Discussão: O golpe de calor é uma síndrome potencialmente fatal, com prognóstico imprevisível e abordagem controversa. O objetivo primário deverá ser a diminuição da temperatura corporal e suporte das funções vitais, mas mesmo em casos graves, como no apresentado, está descrita a recuperação total com tratamento de suporte. Perante o envolvimento hepático, as técnicas de depuração poderão ser potencialmente benéficas e só raramente está indicado o transplante hepático urgente.