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POLISEROSITE EM DOENTE JOVEM: UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
Urgência / Cuidados Intermédios e Doente Crítico - E-Poster
Congresso ID: P868 - Resumo ID: 1894
Centro Hospitalar de Setúbal
Joana Silva Ferreira, Patrícia Domingues, Ana Rita Piteira, Filipa Silva, Telma Caleça, Rita Silvério, Diana Pedreira, Pedro Freitas, Pedro Carreira, Susana Marques, Paula Lopes, Manuela Fera, Ermelinda Pedroso
A poliserosite, inflamação e derrame de várias membranas serosas, pode estar associada a múltiplas causas, nomeadamente neoplásica, infeciosa e auto-imune. No entanto, o seu diagnóstico etiológico continua a constituir um desafio, com a maioria dos casos a ser ainda considerada idiopática.
Apresenta-se o caso clínico de uma mulher de 27 anos, com antecedentes pessoais de psoríase e tabagismo. Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por mialgias e toracalgia anterior, agravada com inspiração profunda e decúbito. Encontrava-se febril, sem outras alterações ao exame objetivo. Apresentava elevação de parâmetros inflamatórios (PI), troponina negativa e eletrocardiograma (ECG) com ligeiro supradesnivelamento ST de concavidade superior em DII e aVF, bem como ligeira depressão PR em DII e V4-V6. Assumiu-se traqueobronquite e teve alta sob analgesia e antibioterapia empírica com amoxicilina+ácido clavulânico.
Por recorrência de toracalgia, com as mesmas características pleuríticas e com irradiação ao ombro esquerdo, regressou ao SU dez dias depois. Negava contexto epidemiológico de infeção. Objetivou-se febre e diminuição do murmúrio vesicular nas bases pulmonares. Analiticamente, tinha PI em rampa ascendente e mantinha troponina negativa. Realizou ECG, que apresentava taquicardia sinusal, já sem supra ST. A radiografia torácica revelou alargamento da silhueta cardíaca, pelo que realizou ecocardiograma, que constatou derrame pericárdico circunferencial grave, com boa função biventricular. Realizou-se pericardiocentese com drenagem de 840cc de líquido sero-hemático com características de exsudado com predomínio de polimorfonucleares e com adenosina desaminase 21 UI/L.
Admitiu-se pericardite aguda e a doente ficou internada para estudo etiológico, sob ibuprofeno e colchicina. Realizou tomografia computorizada torácica, abdominal e pélvica, que detetou derrame pleural bilateral e pequena quantidade de líquido no fundo-de-saco de Douglas. Realizou também estudo microbiológico e citológico do líquido pericárdico, Interferon Gamma Release Assay, serologias virais e estudo auto-imune.
Por persistência de febre e PI em crescendo, iniciou antibioterapia empírica com ceftriaxone e vancomicina, com descida de PI e apirexia ao 3º dia.
Os autores apresentam o caso para discussão de diagnósticos diferenciais de poliserosite no adulto jovem e também para evidenciar como a integração de pequenas alterações do ECG com a clínica se pode revelar essencial para um diagnóstico precoce.