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DERRAME PERICÁRDICO NO DOENTE ONCOLÓGICO: UM CASO DE BOM PROGNÓSTICO.
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P487 - Resumo ID: 1900
Centro Hospitalar de Lisboa Norte
Tiago Petrucci, Laura Pereira, Pedro Silvério António, Inês Nogueira da Fonseca, Inês Goulart, Carlos Machado e Costa
O derrame pericárdico tem um vasto leque de etiologias. As causas idiopáticas (25-48% casos) e infeciosas são as mais comuns, seguindo-se doenças auto-imunes, oncológicas, complicações após enfarte do miocárdio, insuficiência renal e reacções a fármacos. O diagnóstico diferencial do derrame pericárdico num doente sem causa óbvia, ou com patologia múltipla com potencial envolvimento do pericárdio é desafiante e dificultado pela relação risco-benefício desfavorável à realização de pericardiocentese diagnóstica no doente sem compromisso hemodinâmico.

Mulher com 48 anos de idade, portuguesa, residindo no estrangeiro, com diagnóstico prévio de carcinoma sarcomatóide do pulmão direito com metastização intestinal, submetida a lobectomia superior direita e colectomia parcial em 2016.
Sem evidência imagiológica de recidiva na última avaliação imagiológica, em Outubro de 2018.
Seis semanas antes da admissão, iniciou quadro de febre, mialgias, náuseas, sem vómitos, dor abdominal difusa, diarreia (3-5 dejeções diárias) com fezes líquidas, sem sangue, muco ou pús. A este quadro auto-limitado, sucede aparecimento de dor retroesternal, tipo moinha, com irradiação ao pescoço, que agravava com a inspiração profunda, aliviava com a anteflexão do tronco e que se acompanhava de cansaço para esforços de pequena intensidade de agravamento progressivo. Recorreu a serviço de urgência do hospital da área de residência sendo diagnosticada pericardite com derrame pericárdico, pelo que foi medicada com ácido acetilsalicílico e colchicina. Cumpriu terapêutica durante 3 semanas, com referência a persistência e agravamento da sintomatologia descrita. Viaja para Portugal, duas semanas antes do internamento, para consulta de seguimento com o oncologista assistente que a reencaminha para internamento no Serviço de Medicina Interna. No estudo inicial, realizou ecocardiograma que documentou persistência de derrame pericárdico, sem compromisso hemodinâmico. Laboratorialmente, destaca-se elevação de parâmetros inflamatórios: leucócitos 11790x10^6/L, proteína C-reativa 20,3 mg/dL, velocidade de sedimentação 105mm/h, procalcitonina 0,04 ng/dl. Do estudo etiológico dirigido resultou serologia de infeção por vírus Coxsackie positiva, o perfil de autoimunidade foi negativo, bem como os exames microbiológicos. A doente teve alta medicada com ibuprofeno e colchicina, sendo reavaliada em consulta de Medicina Interna em que se encontrava assintomática.

A infeção pelo vírus Coxsackie é uma das causas mais frequentes de pericardite com derrame pericárdico. Os autores descrevem um caso clínico em que, apesar do diagnóstico prévio de uma neoplasia rara e agressiva, com evidência de metastização à distância e mau prognóstico, a história da doença e a forma de apresentação com sintomatologia gastrointestinal foram essenciais no estabelecimento de um diagnóstico final, apesar da não realização pericardiocentese que permitiria uma confirmação molecular e a exclusão de outras etiologias.