Paula Costa, Filipa Lima, Mariana Santos, Mariana Oliveira, Letícia Balanco, Raquel Senra, Marisa Rocha, Abel Alves, Sandra Gouveia, Luís Dias
Introdução
As infeções do trato urinário (ITU) são muito prevalentes em Portugal e um dos motivos mais frequentes de internamento nos Serviços de Medicina, estando associadas a elevados custos e morbilidade.
Objetivo
Neste estudo, pretende-se caracterizar os doentes internados por ITU no serviço de Medicina Interna de um hospital durante o ano de 2018.
Material e Métodos
Estudo retrospetivo e descritivo dos doentes com o diagnóstico principal de ITU internados no período entre 1 de janeiro de 2018 a 31 de dezembro de 2018. Os dados foram obtidos através da consulta dos processos clínicos.
Resultados
Foram analisados os processos clínicos de 429 doentes, 147 (34,3%) homens e 282 (65,7%) mulheres. A idade média dos doentes internados por ITU no ano de 2018 foi de 75 anos, sendo que 82% dos casos apresentavam 65 ou mais anos. Cerca de 90,7% dos doentes residiam no domicílio e 64,1% dos doentes admitidos apresentavam algum grau de dependência. Dos casos diagnosticados, 2% foram admitidos inicialmente em Unidade de Cuidados Intensivos. Quanto aos fatores de risco mais prevalentes, foi possível verificar que 52% dos doentes eram diabéticos, 12,6% eram portadores crónicos de algália, 15,9% apresentavam litíase renal e 50,8% cumpriram antibioterapia nos 3 meses prévios. Conseguiu isolar-se agente etiológico em 85,1% das uroculturas (UC) realizadas. O agente mais frequentemente isolado na UC foi a Escherichia coli (44,4%), seguindo-se a Klebsiella pneumoniae em 17,3% dos casos. Como agentes menos frequentemente identificados destacam-se o Citrobacter freundii, o Citrobacter koseri e a Serratia marcescens. O antibiótico mais amplamente utilizado empiricamente foi o ceftriaxone, em 32,9% dos casos. Foi realizado switch antibiótico em 53,4% dos casos e a duração média de antibioterapia foi de 10 dias. Dos resultados obtidos concluiu-se que 84,2% das ITU diagnosticadas correspondiam a cistites. Verificou-se ainda que 42,2% dos casos de ITU diagnosticados ocorreram em doentes com internamento nos 3 meses anteriores. Dos casos de ITU identificados, 82 casos (19,1%) evoluíram para sépsis/choque séptico. A mortalidade por ITU foi de 4,7%.
Conclusões
As ITU continuam a ser um dos motivos mais frequentes de internamento, sobretudo nos doentes idosos, com comorbilidades graves e importante grau de dependência. O agente mais comummente isolado foi a Escherichia coli. Este estudo demonstra a importância dos exames culturais e do conhecimento dos microorganismos mais frequentes no meio hospitalar, de modo a diminuir as resistências à terapêutica instituída.