Rita Queirós, Ana Oliveira e Costa, Mónica Dinis Mesquita, Joana Vaz Cunha, Ana Paula Dias
INTRODUÇÃO:
A crescente prevalência da resistência bacteriana aos antibióticos é um problema crítico de saúde pública. Atualmente, para a Organização Mundial de Saúde as Enterobacteriaceae resistentes aos carbapenemos (ERC) ocupam um lugar de destaque na lista de ´microrganismos prioritários´ resistentes a antibióticos que representam a maior ameaça à saúde humana. As ERC originam infeções notoriamente difíceis de tratar e estão associadas a elevadas taxas de mortalidade devido às opções limitadas de tratamento.
OBJETIVOS:
Analisar as características dos doentes com bacteriemias por ERC e avaliar o impacto clínico da infeção.
MATERIAL E MÉTODOS:
Análise retrospetiva dos doentes de um Centro Hospitalar nos quais foram isoladas ERC em hemoculturas (HC) entre 1 de janeiro de 2017 e 31 de dezembro de 2018. Caracterizou-se a população de acordo com os dados demográficos, microbiológicos e clínicos que constavam nos respetivos processos individuais.
RESULTADOS:
Foram identificadas 50 bacteriemias por ERC. Estas ocorreram principalmente em indivíduos com idade superior a 60 anos (76%), mais frequentemente no sexo masculino (74%) e em 46% dos casos em doentes autónomos. Havia história de múltiplos internamentos prévios em 7 indivíduos (14%) e 7 (14%) não tinham antecedentes pessoais de relevo. A maioria das bacteriemias teve origem nosocomial (86%), das quais 55,8% em enfermarias médicas. Assumiram-se infeções da corrente sanguínea por ERC em 90% dos casos e contaminações nos restantes.
Quando foi assumida infeção, a maioria estava associada a infeções do trato urinário (33,3%) seguidas do uso de cateter venoso central ou cateter totalmente implantado (24,4%). Quase todas as bacteriemias foram devidas a Klebsiella pneumoniae (88,9%). Os antibióticos mais utilizados para erradicação da bacteriemia foram a tigeciclina e a colistina, seguidas da gentamicina e amicacina, sendo que o objetivo (comprovado com HC de controlo negativas para ERC) foi conseguido em 21 casos. A duração média dos internamentos foi de 41,78 dias. 22,2% (N=10) dos doentes tinham tido isolamentos de ERC prévios, dos quais 5 em HC. A taxa de mortalidade foi de 42,2% (N=19), sendo que 16 óbitos foram atribuídos à infeção por ERC. Dos sobreviventes (N=26), 9 (34,6%) apresentaram isolamentos de ERC em rastreios sépticos posteriores, mas destes apenas 3 foram bacteriemias.
CONCLUSÕES:
Com este trabalho pretende-se demonstrar o forte impacto das bacteriemias por ERC em dois anos de vigilância num centro hospitalar. É urgente consciencializar os médicos para a identificação oportuna e precisa das ERC e instituição precoce de tratamento. Salienta-se a importância da manutenção rigorosa das normas de assepsia na colheita de HC evitando-se contaminações que poderão motivar instituição de antibioterapia de largo espectro desnecessariamente. Uma limitação a este estudo é a sua pequena dimensão que não permitiu a identificação clara de fatores de risco para ERC nestes doentes.