Hospital do Espírito Santo de Évora

INTRODUÇÃO: A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crónica que, quando não controlada, conduz a complicações micro e macrovasculares. A hemoglobina glicosilada (HbA1c) é parte indispensável na avaliação e controlo metabólico, reflectindo a glicémica média dos três meses anteriores. No entanto, o seu valor é afectado por vários factores, pelo que é importante um registo diário dos valores de glicemia. CASO CLÍNICO: Mulher, 80 anos, com DM tipo 2 diagnosticada há 10 anos, sem complicações micro ou macrovasculares conhecidas, medicada com metformina, gliclazida e vildagliptina. Tem ainda hipertensão arterial e síndrome depressiva. Foi observada em Consulta de Diabetologia, com queixas inespecíficas, como palpitações, tremor e sudorese, que ocasionalmente resolviam após ingestão de açúcar. Com HbA1c 6,9%, surgiu a suspeita de que a doente apresentava episódios de hipoglicemia. No entanto, tinha registos de glicémia em jejum de 150-250 mg/dL e pré-prandiais de 250-350 mg/dL. Apesar de não existir documentação de hipoglicemias, optou-se por suspender a sulfonilureia e reavaliar a doente. Na consulta seguinte, sem sintomas autonómicos, com registos de glicémia capilar 200-300 mg/dL, sem hipoglicemias documentadas e com HbA1C 6.1%. Neste momento, face a ausência de sintomatologia e a valor de HbA1c preditor de glicemia média inferior à sugerida pelos registos da doente, foi colocada a hipótese de que o valor desta análise estivesse falseado. Com a realização de electroforese de hemoglobinas, identificou-se a presença de HbS (36.9%). DISCUSSÃO: O valor da HbA1c pode ser afectado por uma variedade de factores - genéticos, hematológicos e associados a doenças crónicas - que não podem ser esquecidos aquando da discrepância entre os valores de glicémia registados e o valor de HbA1c.