André Martins, Ana Barbosa, Ricardo Crespo, Inês Leite, Marina Fonseca, Rui Victorino
INTRODUÇÃO: A síndrome nefrótica é caracterizada pela presença de proteinúria na faixa nefrótica, hipoalbuminemia e edema. A sua existência implica lesão glomerular e a etiologia mais comum nos adultos é a nefropatia diabética. A doença de lesões mínimas é a causa mais frequente nas crianças, sendo responsável por apenas 10 a 15% dos casos primários de síndrome neurótica nos adultos. Caracteriza-se por lesão dos podócitos com alteração da normal carga negativa da membrana de filtração glomerular e consequente filtração indevida de macromoléculas de carga negativa, como a albumina.
CASO CLÍNICO: Homem de 72 anos com diagnósticos de hipertensão arterial, dislipidemia e esclerose lateral amiotrófica, admitido por quadro com uma semana de evolução de edemas generalizados, de predomínio nos membros inferiores até à metade inferior das pernas, mãos e, ao acordar, periorbitários, bem como cansaço para esforços progressivamente menores. Sem ortopneia nem dispneia paroxística nocturna. Radiografia de tórax com derrame pleural bilateral. Avaliação laboratorial com aumento de creatinina (1.25 mg/dL) e ureia (60 mg/dL), hipoproteinemia (4.9 g/dL), hipoalbuminemia (2.3 g/dL) e proteinúria (500 mg/dL) em amostra. A investigação adicional revelou tratar-se de proteinuria na faixa nefrótica com 10241 mg/24h. Imunofixação sérica sem componente monoclonal e urinária sem Bence-Jones. Excluída diabetes (HbA1c 5.2%). Estudo de autoimunidade negativo. Ecocardiograma transtorácico com função sistólica global conservada. Ecografia renal com rins normodimensionados, diferenciação parenquimocentral e espessura parenquimatosa globalmente mantidas. Biópsia renal compatível com doença de lesões mínimas. Iniciou terapêutica diurética com furosemida para diminuição dos edemas e corticoterapia sistémica com prednisolona 1mg/Kg/dia verificando-se diminuição progressiva da proteinúria.
DISCUSSÃO: A síndrome nefrótica por doença de lesões mínimas é uma causa pouco frequente de síndrome nefrótica no adulto. O diagnóstico implica a exclusão de outras causas mais frequentes nesta faixa etária e biópsia renal para confirmação. A resposta à corticoterapia sistémica é geralmente excelente, embora determinadas situações impliquem outros imunomoduladores. O tratamento adequado e atempado é importante para prevenir as complicações desta síndrome.