Sofia Pinelas, Neuza Soares, Joana Pimenta, Jorge Almeida
A pericardite é uma entidade que passa muitas vezes despercebida, e nem todos os doentes têm indicação para um estudo etiológico exaustivo. Contudo, naqueles cuja existência de critérios de gravidade motiva internamento, deve ser feita uma abordagem sistemática tendo em consideração todas as hipóteses, incluindo os fatores de risco inerentes ao próprio doente.
Homem de 26 anos, com antecedentes de hipotiroidismo subclínico e Linfoma de Hodgkin diagnosticado há 6 anos e tratado com quimioterapia e radioterapia. Apresenta um quadro de dor torácica com cerca de um mês de evolução e agravamento na última semana (agora mais marcada com a inspiração profunda e em decúbito dorsal), motivo pelo qual recorreu ao serviço de urgência. Analiticamente sem alterações de relevo. Realizou TAC toraco-abdominal que revelou derrame pericárdico circunferencial com espessamento e hipercaptação dos folhetos pericárdicos a traduzir pericardite. Teve alta medicado com anti-inflamatórios não esteróides, que fez durante uma semana, sem apresentar melhoria; iniciou febre, motivo pelo qual voltou ao serviço de urgência. No eletrocardiograma verificou-se supradesnivelamento do segmento ST em D1 e D2 e nas análises apresentava aumento dos marcadores inflamatórios, sem aumento dos marcadores de necrose miocárdica. Foi assumida pericardite aguda para a qual foi instituida colchicina e ibuprofeno, com melhoria clínica, analítica e ecocardiográfica. Todo o estudo realizado no internamento foi negativo, incluindo o despiste de progressão da doença hematológica, e não foram isolados quaisquer agentes infeciosos. Assumiu-se como mais provável tratar-se de uma pericardite pós-radioterapia. Durante o follow-up o doente apresentou boa evolução, tendo sido feito o desmame lento do anti-inflamatório enquanto manteve a colchicina durante 3 meses. Em ecocardiograma de reavaliação já não era identificável imagem de derrame pericárdico.