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TORACALGIA E DISPNEIA, UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P457 - Resumo ID: 1915
Centro Hospitalar de Setúbal - Serviço de Medicina Interna
António Eliseu, Teresa Furtado, Filipa Silva, Susana Marques, Pedro Carreira
Introdução: A pericardite tuberculosa é uma doença rara, representando apenas 4% de casos de pericardite em países desenvolvidos. Apresenta-se por manifestações inespecíficas e o seu diagnóstico é difícil de estabelecer. A tuberculose é responsável por 70% dos casos de derrame pericárdico extenso, sendo premente a instituição de terapêutica.
Caso clínico: Doente do sexo masculino, 75 anos, residente em meio rural.
Recorreu ao Serviço de Urgência por um quadro com 4 dias de evolução de dispneia, cansaço progressivo, toracalgia (tendo como fatores de alívio o repouso e flexão anterior do tronco), mialgias, anorexia e febre. À admissão: febril com TT 39ºC, sons cardíacos hipofonéticos, sem outras alterações de relevo. Analiticamente: anemia normocítica e normocrómica (12g/dL), sem leucocitose, elevação da PCR (30 mg/dL) e VS > 120 mm/1h. Realizou 1) Rx Tórax: aumento do ICT com silhueta em “garrafa de água”; 2) TC-Tórax: derrame pericárdico, densificações apicais à direita a nível do parênquima pulmonar provavelmente cicatriciais, calcificações na pleura visceral; 3) ECG: taquicárdia sinusal, baixa voltagem nas derivações periféricas; 4) ETT: derrame pericárdico (~23 mm) com colapso da AD e do VD, fluxo transmitral com variação respiratória >25%, plétora da veia cava. Fez-se pericardiocentése com drenagem de 1800cc/24h de líquido serohemático (amostras enviadas para avalição citoquímica, microbiológica e anatomia patológica). O exame citoquímico do líquido pericárdico revelou um exsudado com predomínio de linfócitos (75%), muitos eritrócitos, glicose 75 e ADA 101 U/L com pesquisa de BAAR negativa. O resultado das hemoculturas foi estéril com serologias virais e bacterianas e estudo de autoimunidade todos negativos. Resultado de anatomia patológica inconclusivo. Enquanto aguardava resultado de TAAN para M. tuberculosis, por manutenção de febre, parâmetros inflamatórios elevados e elevado grau de suspeição clínica e laboratorial de pericardite tuberculosa, foi iniciada empiricamente terapêutica antibacilar ´standard´. Verificou-se boa resposta clínica e analítica à terapêutica instituída com apirexia mantida e descida progressiva dos parâmetros inflamatórios. O resultado do TAAN para M. tuberculosis acabou por se revelar positivo. Após confirmação diagnóstica associou-se corticoterapia sistémica por se tratar de um doente de alto risco. À data de alta o doente estava assintomático com normalização da PCR e ETT com derrame residual mantendo seguimento em ambulatório.
Conclusão: O diagnóstico de pericardite tuberculosa é extremamente dífcil de estabelecer, sendo por vezes necessário introdução empirica da terapeutica antibacilar. Sem tratamento apresenta uma elevada taxa de mortalidade. O seu diagnóstico precoce com instituição atempada de terapêutica antibacilar é crucial no prognóstico dos doentes aumentando drasticamente a sua sobrevida.