Introdução: Na população idosa é comum algumas patologias agudas cursarem com clínica inespecífica, o que dificulta as hipóteses de diagnóstico iniciais e posterior orientação. A apendicite aguda é uma delas. Frequentemente, estes doentes não apresentam a clínica e alterações típicas ao exame objetivo, têm uma tendência mais rápida à perfuração apendicular e, por vezes, o diagnóstico inicial colocado é uma neoplasia.
Caso clínico: Mulher de 84 anos, com antecedentes de diabetes mellitus tipo 2, dislipidémia e hipertensão arterial essencial, que recorre ao serviço de urgência por tosse seca e dispneia para pequenos esforços com um dia de evolução. Associadamente referia anorexia e dor abdominal constante, difusa, desde a semana anterior à admissão. Portadora de Tomografia computarizada abdomino-pélvica realizada em ambulatório que mostrava uma massa abdominal posterior à transição ileocecal, de 7 x 5,9 x 6,3 cm, correspondente a processo neoformativo primário com eventual ponto de partida na última ansa ileal, apêndice ou ovário. À admissão apresentava-se apirética, com saturação periférica de oxigénio de 80% em ar ambiente, auscultação pulmonar sem ruídos adventícios e abdómen indolor a palpação, sem massas palpáveis, sem defesa. Estudo analítico com subida de parâmetros inflamatórios, com leucocitose de 16.68x10e3/ul, neutrofilia de 86% e proteína C reativa de 14.42mg/dl. Gasimetria com insuficiência respiratória tipo 1. Teleradiografia torácica sem consolidações. Ficou internada no serviço de Medicina para tratamento de traqueobronquite aguda com insuficiência respiratória tipo 1 e estudo de massa abdominal. Cumpriu ciclo de antibioterapia com amoxicilina-ácido clavulânico, com boa evolução. Aquando da realização da biópsia da massa abdominal, constatada redução franca das suas dimensões, com 4,4 x 4,2 x 2,7 cm de maiores diâmetros, assumindo características de provável apendicite complicada, provavelmente abcedada, em resolução. Observada por colega de cirurgia, tendo tido alta medicada com clindamicina, orientada para consulta de cirurgia.
Discussão: Este caso visa alertar para a inespecificidade da clínica em extremos da idade, assim como para a variabilidade dos resultados dos meios complementares de diagnóstico a nível da imagiologia, dependentes do observador. Com o envelhecimento da população e o aumento da idade dos doentes observados pela Medicina Interna, é necessário aumentar o índice de suspeição diagnóstica, uma vez que muitas das patologias comuns têm uma apresentação atípica.