Introdução: O Parvovírus B19 (PB19) é um vírus de DNA com apresentação clínica variável. A infeção pode ser assintomática e autolimitada ou cursar com febre, mialgias, artralgias, rash e cefaleias. Classicamente, associa-se ao eritema infecioso e às artropatias, em crianças e adultos, respetivamente.
Objetivo: Caracterizar o perfil de doentes a quem são solicitados estudos serológicos para o PB19 num Serviço de Medicina Interna (SMI), durante o período de um ano; conhecer o contexto clínico, motivo de requisição e seus resultados.
Métodos: Realizou-se análise retrospetiva, parametrizada pelo software Modulab® Werfen v3.0, de todos os pedidos de testes serológicos para PB19 durante o período de Janeiro a Dezembro de 2018, efetuados por clínicos do SMI de um hospital distrital. Destes, procedeu-se a revisão paralela do Processo Clínico e recolheram-se as seguintes variáveis: idade, sexo, contexto de requisição, quadro clínico e analítico que a motivaram, hipótese diagnóstica inicial e resultados laboratoriais.
Resultados: Identificaram-se 72 casos neste período, cuja população apresentava uma média de idades de 50 anos (±17,3), a maioria do sexo feminino (51,2%). Dos pedidos realizados, 37,5% foram em contexto de consulta, 31,9% em internamento e 30% em urgência. Relativamente aos resultados serológicos, 58,3% dos doentes apresentou IgG positivo (pos) e IgM negativo (neg); 29,2% IgG e IgM neg; 9,7% IgG inconclusivo e IgM neg; 2,8% IgG pos e IgM inconclusivo. Não se identificou nenhum caso com serologia compatível com infeção aguda.
Em relação ao motivo e hipótese diagnóstica avançados no pedido de exames laboratoriais, identificaram-se como mais frequentes: Febre (34,7%); Outro diagnóstico (11,1%); Adenopatia (5,6%); Trombocitopénia (5,6%); Artrite (4,1%), Hepatite (4,1%) e Pneumonia (4,1%). Da amostra inicial, 2,8% não possuía informação relativa ao quadro clínico. Dos restantes, 69,4% dos doentes apresentava pelo menos um dos sintomas habituais da infeção PB19: febre (47,1%), artralgias (25,7%), mialgias (22,9%), coriza (12,9%), rash (12,9%) e cefaleias (8,6%). Por outro lado, 28,6% não apresentava nenhum destes e, nesse grupo, os sintomas mais referidos foram adenopatias (20%), cansaço(10%), dispneia(10%), úlceras(10%). Relativamente ao quadro analítico, 38,9% realizou controlo no mês anterior ao pedido e as alterações mais frequentes foram linfocitopenia (57,1%), trombocitopenia(50%), anemia(39,3%) e leucocitose(21,4%).
Conclusão: Dos pedidos efetuados nenhum se revelou positivo para infeção aguda por PB19, ainda que a maioria apresentasse pelo menos um sintoma atribuível a esta, o que pode justificar-se pela clínica inespecífica que caracteriza a infeção. A maioria apresentava serologias compatíveis com infeção no passado. Dado que, segundo a literatura, a reinfeção é muito rara, tornava-se pouco provável a presença de infeção aguda nesta amostra. Assim, conclui-se que a colocação desta hipótese diagnóstica está provavelmente sobrevalorizada.