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PRURIDO IDIOPÁTICO: UM MARCADOR SUBESTIMADO DE NEOPLASIA?
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P780 - Resumo ID: 1962
Hospital Central do Funchal
Diogo Raposo Andre, Fabiana Gouveia, Mónica Caldeira, Teresa Raposo André, Fernando Aveiro, António José Chaves, Maria da Luz Brazão
INTRODUÇÃO: O Prurido é encarado como um sintoma comum e não uma entidade específica de uma doença em particular, sendo este considerado crónico quando a sua duração supera as seis semanas. Em relação à etiologia do prurido generalizado idiopático, estudos sugerem que em 10% dos casos resulte de um quadro oncológico, dos quais os Linfomas e as Leucemias são os mais prevalentes. O prurido como sinal paraneoplásico é igualmente registado em tumores sólidos, como o Carcinoma Pulmonar de Não Pequenas Células, Tumores Obstrutivos da Cabeça do Pâncreas e Insulinomas. Contudo, a epítome de Prurido Paraneoplásico (PP) ocorre no contexto do Linfoma de Hodgkin (LH), onde a sua prevalência está descrita em até 30% dos doentes e, aproximadamente, em 15% dos casos de Linfoma Não-Hodgkin (LNH). No LH o prurido pode preceder, desde semanas até meses, antes da existência de sinais e sintomas sugestivos. Tendencialmente, este é mais debilitante em indivíduos de idade e doença avançadas. A exacerbação noturna é comum em todas as formas de PC.
CASO CLÍNICO 1: Doente de 80 anos, do sexo feminino, recorreu ao serviço de urgência (SU) por prurido refractário a terapêutica antipruriginosa e perda ponderal de cerca de 14kgs com 5 meses de evolução, associados a astenia e sudorese nocturna. Previamente ao internamento actual, há documentação imagiológica de conglomerados adenopáticos adjacentes aos vasos ilíacos esquerdos prologando-se até às regiões inguinais, cujo estudo anátomo-patológico evidenciou características de células Reed-Sternberg de Linfoma de Hodgkin Clássico com Esclerose Nodular.
CASO CLÍNICO 2: Doente de 64 anos, do sexo masculino, recorreu SU por quadro de icterícia, astenia e prurido generalizado. Foi admitido no Serviço de Cirurgia Geral para estadiamento de lesão pancreática neoformativa, que segundo tomografia computorizada identificou-se uma Neoplasia da Cabeça do Pâncreas com componente obstrutivo da via biliar principal e invasão da veia porta. Atendendo à dificuldade na canulação da papila de Vater, doente foi submetido a anastome biliodigestiva e gastrojejunal em Y de Roux.
DISCUSSÃO: Estes casos clínicos vêm reforçar a ideia de que, para além da natureza do prurido, um histórico pormenorizado do doente pode auxiliar no estabelecimento do diagnóstico. A investigação laboratorial deve ser reservada para doentes sem evidência de doença cutânea e que não respondam a um tratamento antipruriginoso. Segundo a literatura, doentes com prurido crónico (PC) sem alterações cutâneas evidentes apresentam um risco aumentado, com significado estatístico, de vir a desenvolver doença oncológica hematológica e/ou com atingimento do ducto biliar. Contudo, a incidência dessas neoplasias são diminutas (0,0003 e 0,0016 por pessoa-ano, respectivamente). Deste modo, conforme o exposto, o rastreio amplo para despiste de doença oncológica em doente com PC é considerado desnecessário.