Tânia Madureira, Pedro Vilas, Beatriz Gosalbez, Irene Furtado
INTRODUÇÃO: Sintomas como perda ponderal e astenia são bastante frequentes e inespecíficos em relação à doença subjacente, dificultando o processo diagnóstico. O cancro do pâncreas é diagnosticado habitualmente numa fase em que a sobrevida dos doentes já está comprometida. Apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas e na quimioterapia disponíveis, o diagnóstico tardio faz com que a letalidade da doença se mantenha elevada, com sobrevivência global aos 5 anos de apenas 5%.
OBJETIVOS: Estudar os doentes com cancro do pâncreas em relação à forma de apresentação, diferença temporal entre o início da clínica e a procura de cuidados médicos, diagnóstico atempado, possibilidade de tratamento e impacto na sobrevivência.
MATERIAL E MÉTODOS: Foram consultados 59 processos clínicos de pacientes com diagnóstico de cancro do pâncreas no período correspondente entre janeiro de 2012 e junho de 2016. Foram usadas estatística descritiva e curvas de sobrevida de Kaplein-Meier no SPSS 25.0.
RESULTADOS: Foram analisados 59 casos, 61% do sexo masculino, com mediana de idades de 67 anos. A admissão hospitalar ocorreu pelo serviço de urgência em 81% dos casos motivada por sintomas/sinais com várias semanas de evolução - mediana de 2 meses, máximo 12meses. A perda ponderal significativa foi a manifestação mais frequente (69%). A dor abdominal esteve presente em 56%, a astenia em 52%, icterícia em 39% e a ascite em 5%. O diagnóstico inaugural de diabetes ou a descompensação de diabetes preexistente, estiveram presentes em 28% dos casos. Estudos complementares com TC abdominal seguindo de biopsia confirmaram a suspeita diagnóstica de cancro do pâncreas. A maioria envolvia a cabeça do pâncreas, eram adenocarcinomas, e apresentou-se em estadio avançado (estadio IV em 41%). 34% dos doentes estudados não tiveram indicação para tratamento direcionados à doença oncológica, sendo a estratégia paliativa assumida desde o início. A sobrevida mediana foi de 121 dias, 4 meses. A sobrevivência foi estatisticamente superior nos doentes submetidos a cirurgia (34%, mediana 355 vs 75 dias, p=0.0003) e nos que realizaram quimioterapia (46%, mediana 359 vs 41 dias, p=0.001). Nos casos de doença avançada ao diagnóstico, a sobrevida mediana foi de 59 dias (vs 355 para a doença não metastizada, p=0.001).
CONCLUSÕES: A maioria dos doentes manifestou clínica inespecífica e arrastada no tempo, de difícil valorização e interpretação pelo próprio e pelos clínicos. Como esperado, verificou-se uma apresentação tardia, com quase metade dos casos em estadio avançado ao diagnóstico, e consequentemente com baixa sobrevivência. Verificou-se que, quando o doente reúne condições para cirurgia e/ou quimioterapia, a sobrevivência mediana é estatisticamente diferente, aproximando-se de 1 ano. Os dados apresentados estão de acordo com o estado da arte. A escassa especificidade da clínica dos doentes com cancro do pâncreas à apresentação, torna crucial o estudo no sentido de identificação precoce desses doentes.