23

24

25

26
 
SÍNDROME FEBRIL - O ETERNO DESAFIO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P488 - Resumo ID: 1967
Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Ana Teresa Costa, José Ribeiro
Introdução: O síndrome febril continua a ser um grande desafio para o internista, incluindo um variado número de etiologias de natureza infecciosa, neoplásica ou auto-imune.
Caso clínico: Homem de 64 anos, com hipertensão arterial, obesidade, hipercolesterolémia, hiperplasia benigna da próstata e ex-fumador (80UMA).
Apresenta-se no serviço de urgência com febre associada a calafrio, com 1 semana de evolução. Sem alterações ao exame objetivo. Radiografia de tórax sem alterações. Analiticamente com 4.290 x 10^6 leucócitos, 136.000 plaquetas, PCR 145,3 mg/L, ALT 88U/L, AST 54U/L e GGT 306U/L. Sem alterações na urina II. A pesquisa de influenza A e B e vírus sincicial respiratório foi negativa. Realizou ecografia abdominal superior que mostrou hepatomegalia homogénea (eixo longitudinal 17,6 cm), com marcada infiltração esteatósica difusa e esplenomegalia homogénea (14,3 cm de eixo bipolar). O doente descreve contacto com animais de quinta, nomeadamente porcos, ovelhas e cães, e com poeiras dos locais de armazenamento dos animais. Não apresentava história de consumo de fármacos de novo, álcool ou drogas.
Em internamento manteve-se febril. As hemoculturas e uroculturas foram sucessivamente negativas. Realizou ecocardiograma transtorácico que excluiu imagens sugestivas de vegetações. Realizou também TC toraco-abdomino-pélvico que apenas confirmou hepatomegalia (19 cm) e esplenomegalia (15cm) homogéneas, já descritas, e excluiu patologia neoplásica.
Face ao contexto epidemiológico foram pedidos o teste rosa de bengala , teste de Huddleson e serologias da Brucella que foram negativos. Foi excluída infecção por vírus hepatotrópicos, nomeadamente hepatite A, B e C, Vírus Epstein-Barr e Citomegalovírus.
Finalmente ao 16º dia de internamento o título de anticorpos IgG – Fase II para Coxiella burnetii foi positivo (>200). Dado contexto clínico iniciou doxiciclina 100mg 2id, que cumpriu por 14 dias. Atingiu apirexia ao final de 5 dias de tratamento.
Foram repetidas serologias após 4 semanas do primeiro doseamento que mostraram subida do título de anticorpos IgG – Fase II para 25.600 e confirmou a infecção por Coxiella burnetii.
O doente foi reavaliado em consulta aos 6 meses após alta. Na avaliação analítica houve normalização das alterações hepáticas e hematológicas. Repetiu ecocardiograma que excluiu vegetações.
Discussão: A febre Q é uma zoonose de distribuição mundial, com crescente interesse na Europa. Apesar dos dados oficiais apontarem para uma baixa incidência (0,11 casos por 105 habitantes), esta é uma doença subnotificada. O contexto epidemiológico é fundamental para a suspeição clínica. As manifestações clínicas são variadas, desde sintomas gripais às manifestações cardíacas, como a miocardite e/ou pericardite ou a endocardite. Na avaliação após tratamento é fundamental a exclusão de endocardite crónica, em particular se doença valvular prévia, o que não se constatou no caso apresentado.