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ENDOCARDITE BACTERIANA: UMA ENTIDADE CLÍNICA A NÃO SUBESTIMAR
Doenças cardiovasculares - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO018 - Resumo ID: 1986
Departamento de Medicina, Hospital de Pedro Hispano
Inês Moreira, Joana Monteiro, Cristina Rosário, Sofia Correia, Joana Simões
A endocardite bacteriana é uma entidade clínica com elevada morbimortalidade. Existem diversos procedimentos invasivos associados ao seu desenvolvimento. Má higiene oral e uso de drogas endovenosas são outros fatores predisponentes. Alterações estruturais congénitas valvulares, sendo a válvula aórtica bicúspide a mais comum, associam-se a maior risco de endocardite.
Homem, 23 anos, sem antecedentes de relevo. Recorreu ao SU a 13/01 por dor torácica retroesternal em aperto com 3 dias de evolução, sem relação com esforços, que agravava com a inspiração profunda. Deste há 2 meses com astenia, anorexia, dispneia para esforços, hipersudorese noturna e temperatura subfebril. Referência a má higiene oral e desvitalização dentária há 6 meses. À admissão, febril, com sopro holossistólico. Análises com elevação discreta da troponina. ECG sem alterações. Ecocardiograma a revelar válvula aórtica bicúspide com presença de vegetação; insuficiência aórtica severa secundária a destruição valvular significativa; boa função sistólica biventricular. Colheu hemoculturas e iniciou ceftriaxone, ampicilina e gentamicina. Após isolamento de Streptococcus mitis multisensivel, descalada para ceftriaxone e gentamicina.Por manutenção de dor pleurítica efetuou TC torácica, que documentou embolização séptica pulmonar. A 17/01 agravamento da dor torácica. ECG: alterações da repolarização ventricular, infra-ST difuso, elevação do ponto J em V1 e aVR. Elevação marcada da troponina. Assumida isquemia do miocárdio em provável contexto de roubo coronário pela insuficiência aórtica severa e/ou embolia séptica. Submetido a cirurgia cardíaca urgente que documentou, além da regurgitação aórtica grave, fístula entre o trato de saída do ventrículo esquerdo (VE) e a aurícula direita. Realizada substituição valvular aórtica por prótese mecânica e exclusão da fístula. No pós-operatório evolução desfavorável em choque cardiogénico por disfunção sistólica grave do VE (FEVE 18%), com necessidade transitória de ECMO (8 dias). Documentada recuperação da função sistólica do VE em ecocardiograma de reavaliação 14 dias após cirurgia cardíaca.
Este caso retrata o quadro clínico fulminante e quase fatal de um doente jovem com válvula aórtica bicúspide como fator de risco major. A história de má higiene oral constitui um fator agravante, sendo o ponto de partida mais provável da infeção. Diversas anomalias congénitas cardíacas têm um curso benigno e são assintomáticas. Este doente desconhecia previamente a presença da alteração da válvula aórtica, pelo que não foi possível atuar preventivamente. Atualmente a profilaxia antibiótica está recomendada apenas para os doentes de elevado risco e não para doentes de risco intermédio, como a bicuspidia da aorta, exceto se episódio prévio de endocardite bacteriana. Esta população de risco intermédio deverá cumprir medidas preventivas gerais, como a higiene dentária, para diminuir o risco de ocorrência destes eventos que poderão cursar com evolução desfavorável.