Maria Bairos Menezes, Maria Piteira, Margarida Massas, Leila Barrocas, Ana Pedrosa, Sara Correia, Mariana Soares, Vasco Neves, Ana Bernardo, Vera Sarmento, M. Luisa Sanchéz Corraliza, Conceição Barata
INTRODUÇÃO: A oftalmopatia de Graves (OG) associada a alterações da função tiroideia é uma patologia inflamatória autoimune que ocorre em aproximadamente 25% dos casos de Doença de Graves. Na maioria dos doentes é autolimitada, contudo condiciona alterações significativas da morfologia orbitária e função visual, com repercussão na qualidade de vida. O sistema de classificação do Grupo Europeu da Orbitopatia de Graves (EUGOGO) foi concebido para avaliar a atividade e gravidade desta patologia e guiar a abordagem terapêutica. A susceptibilidade genética, tabagismo e stress são factores predisponentes e as formas mais graves são mais frequentes no sexo masculino e em idade avançada.
CASO CLÍNICO: Homem de 62 anos, independente nas atividades de vida diária, com o diagnóstico de Doença de Graves 3 anos antes. Tem como antecedentes pessoais AVC isquémico, HTA, dislipidémia e patologia brônquica tabágica (fumador, 50UMA). É referenciado à consulta de Medicina Interna por descompensação da função tiroideia, sob terapêutica com antitiroideus. O doente afirmava disfagia, disfonia, edema palpebral, irritabilidade e insónia. Analiticamente apresentava uma TSH de 0.006mU/L, T4 livre de 4.05ng/dL e anticorpos anti-receptor da TSH positivos. A ecografia da tiroide evidenciava aumento global de toda a glândula tiroide com contornos periféricos regulares e ecoestrutura homogénea. Aumentou-se dose de metibasol que foi posteriormente suspenso por hipotiroidismo. Dois meses depois o doente apresentava agravamento oftalmológico, com dor espontânea retrobulbar e despoletada pelos movimentos, exoftalmia, edema e retração palpebral, hiperemia conjuntival, lacrimejo e diminuição da acuidade visual. A RMN encefálica e orbitária era sugestiva de orbitopatia tiroideia com consequente diminuição do espaço útil nos ápices orbitários, proptose ocular e nervos e quiasma ópticos normais. Foi referenciado de carácter urgente à consulta de Oftalmologia e após avaliação por esta especialidade foi internado para corticoterapia endovenosa. Foi recomendada a cessação tabágica, medidas locais e manteve em ambulatório pulsos de corticoides. Foi submetido a 10 sessões de radioterapia com uma dose total de 20Gy sobre os músculos orbitários com melhoria. Encaminhado à consulta de endocrinologia, sendo submetido a tiroidectomia total, com histologia de “hiperplasia difusa com aspectos de hiperfunção compatível com Doença de Graves”.
DISCUSSÃO: De acordo com a EUGOGO a abordagem da OG implica a modificação dos factores de risco como a cessação tabágica e normalização da função tiroideia. Quando se trata de OG moderada a severa a terapêutica inicia-se por corticoterapia endovenosa, podendo ser necessária radioterapia ou até cirurgia de descompressão da órbita. Com este caso clínico podemos refletir a importância de uma abordagem multidisciplinar e variedade de tratamentos instituídos, com impacte na qualidade de vida do doente.