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HIPOTIROIDISMO GRAVE E SÍNDROME DE HIPERESTIMULAÇÃO OVÁRICA NUMA GRÁVIDA: UM CASO RARO
Doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais - Caso Clínico
Congresso ID: CC039 - Resumo ID: 2044
Centro Hospitalar Universitário de Coimbra
Mariana Guerra, Daniela Marado, Fátima Silva, Maria Céu Almeida, Armando Carvalho
Introdução
A síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO) é uma condição ameaçadora da vida, que classicamente se apresenta em mulheres sob terapêutica no âmbito de técnicas de reprodução medicamente assistida e que se caracteriza pelo aumento das dimensões ováricas, devido à presença de quistos ováricos e de líquido na cavidade abdominal. Na ausência de estimulação exógena, casos raros de SHO têm sido descritos em mulheres com hipotiroidismo grave.
Caso clínico
Mulher de 22 anos, que recorreu ao SU por astenia, amenorreia e aumento do volume abdominal, com 2 meses de evolução. Como antecedentes pessoais, apresentava hipotiroidismo primário, estando medicada com levotiroxina 200 mcg id, que tinha decidido suspender por vontade própria. O doseamento de beta-HCG foi de 84,6 mUI/mL, o de TSH-3ª geração foi de 515 Ui/mL e o de T4 livre <0.4 ng/dL. A gestação foi datada ecograficamente como sendo de 11 semanas e 5 dias e, concomitantemente, eram evidentes ovários de dimensões aumentadas, com quistos multiloculares bilaterais e líquido na cavidade abdominal. A ecocardiografia transtorácica revelou derrame pericárdico. Os níveis de CA125 foram de 1045 U/mL e os de alfafetoproteína de 25 ng/mL. Assumiu-se o diagnóstico de SHO espontâneo, secundário a hipotiroidismo grave com poliserosite. Iniciou levotiroxina 200 mcg id e foi reavaliada uma semana depois. A distensão abdominal diminuiu, os valores de TSH reduziram para 340 Ui/mL e a T4 livre era de 0,7 ng/dL. Ecograficamente, o feto apresentava boa vitalidade, os ovários reduziram de dimensões (em cerca de 50%), tal como o derrame abdominal.
Discussão
Os mecanismos fisiopatológicos da SHO espontânea ainda não são totalmente compreendidos, mas níveis elevados de TSH conseguem estimular os ovários, dado que a hormona partilha uma estrutura homóloga com as gonadotrofinas. O facto de a doente ter conseguido engravidar com níveis indoseáveis de hormonas tiroideias torna o caso ainda mais raro.