23

24

25

26
 
FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA, UM DESAFIO INGLÓRIO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P549 - Resumo ID: 2058
Centro Hospital e Universitário do Porto
João Oliveira, Ana Vigário, Sofia F. Ribeiro, Fátima Farinha, João Araújo Correia
INTRODUÇÃO: A febre de origem indeterminada (FOI) é um desafio diagnóstico e inconclusiva em 30 a 50% dos casos. Os autores pretendem mostrar a dificuldade diagnóstica de um caso com múltiplos fatores confundidores.
CASOS CLÍNICO: Mulher de 69 anos, com carcinoma cribiforme invasor e ductal invasor da mama direita, submetida a mastectomia total em 2005. Esquizofrenia desde os 24 anos, com vários internamentos e medicada desde então com antipsicóticos, suspensos 1 ano antes do internamento, por sindrome parquinsónico e distónico, tendo iniciado antiparquinsónicos. Dá entrada no hospital por febre, desidratação e perda ponderal. Apresentava sindrome consumptivo, atrofia muscular generalizada progressiva, sudorese, periodos de maior apatia com cerca de 6 meses de evolução, com maior dependência nas semanas prévias ao internamento. Inicialmente sem clinica focalizadora de órgão; anemia dos estados inflamatórios; aumento dos parametro inflamatórios; e assumida infecção respiratória. Debelado processo infeccioso, persistência de febre alta, com resposta parca a anti-piréticos e anti-inflamatórios. Artérias temporais palpáveis e simétricas. Revistos fármacos indutores de febre, excluidos focos de infecção, nomeadamente no sistema nervoso central e zoonoses. Rastreadas infecções víricas e doenças auto-imunes, igualmente negativas. Tomografia toracoabdominopélvica sem alterações e excluidas doenças linfoproliferativas. PET com hipercaptação de tecidos moles retro-sagrados e vários músculos proximais, mas biópsia muscular revela apenas atrofia neurogénica severa. Por persistência de quadro de febre de dificil controlo, e após rastreio oncológico (não invasivo) procedeu-se à pesquisa de DNA tumoral sérico em confronto com peça mamária de neoplasia prévia, igualmente negativo. Apesar do tempo decorrente entre início de febre e suspensão de neutroléticos, e a duração de quadro de febre, equacionada a possibilidade de sindrome de catatonia maligna aos neuroléticos, realizou trial de benzoadiazepinas sem melhoria.
Após 2 meses de quadro febril de difícil controlo, inicia períodos de apirexia interpelados de febre, ainda que mais controlada. Durante esse período, agravamento neuromuscular progressivo sem verbalização, tetraparésia com tónus aumentado e espasticididade, postura flectida das mãos e em extensão dos pés e postura distónica cervical. Reflexos cutâneo-plantares esboçavam flexão e dúvida de mioclonias. Foi ainda levantava a hipótese de esclerose lateral amiotrófica e demência fronto-temporal, mas C9orf negativa, tornando o diagnóstico pouco provável.
CONCLUSÃO: O diagnóstico de FOI permanece indefinido num número considerável de casos, alguns com persistência de febre nos meses seguintes, mas habitualmente com bom prognóstico ou esclarecimento etiológico nos meses seguintes. Neste caso, o quadro de caquexia e as alterações neurologicas foram-se afirmando de forma irreversível, permanecendo desconhecida a sua etiologia após 6 meses de internamento.