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FEBRE Q AGUDA - UM CASO CLÍNICO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P459 - Resumo ID: 2063
(1) Hospital Pulido Valente, Centro Hospitalar Lisboa Norte (2) Hospital Central do Funchal (3) Hospital Vila Franca de Xira
Marta Freixa(1), João Bettencourt Abreu(2), Diana Buendía Palacios(1), Joana Barbosa Rodrigues(1), André Ferreira Simões(3), Sara Úria(1), Glória Nunes da Silva(1)
INTRODUÇÃO: A Febre Q é uma zoonose causada pela Coxiella burnetti e ocorre principalmente pela inalação de aerossóis ou poeiras que contém esporos do agente resultantes do contacto directo com animais infectados e os seus produtos ou com o ambiente contaminado por estes. Caracteriza-se por um amplo espectro de manifestações clínicas, desde formas assintomáticas até síndromes febris mais ou menos prolongados, com ou sem focalizações. Dever-se-á considerar a sua suspeita no diagnóstico diferencial de febre de origem indeterminada.
CASO CLÍNICO: Homem 57 anos, hipertenso, diabético e obeso, encontrava-se desde há 3 dias com mialgias, coriza e febre. Por dor pré-cordial com irradiação para o hipocôndrio esquerdo recorre ao Serviço de Urgência. Aqui encontrava-se sudorético mas apirético, com SpO2 88%, PaO2 60 mmHg em ar ambiente, auscultação cardio-pulmonar sem alterações e sem alterações cutâneas nomeadamente exantema. Laboratorialmente sem leucocitose, proteína C-reactiva (PCR) 7,72 mg/dL, trombocitopénia 81x10^9/L plaquetas, d-dímeros 0,59 ug/dL e troponina normal. Por suspeita de tromboembolismo pulmonar realiza angio-TC tórax que exclui, com apenas evidência de adenopatias hilares. É internado e, admitida infecção respiratória baixa, é iniciada antibioterapia (AB) com amoxicilina/ácido clavulânico e azitromicina, alterada ao 4º dia para ceftriaxone por persistência de febre e agravamento dos parâmetros inflamatórios (PCR 19,5 mg/dL). As hemoculturas foram negativas (incluindo micobactérias). Por persistência de febre após 15 dias de antibioterapia foram realizadas serologias HIV 1 e 2 e IGRA que foram negativos, TC toraco-abdomino-pélvica que excluiu a existência de colecções sugestivas de abcessos e a ecocardiografia excluiu endocardite infecciosa. Após revisão do contexto epidemiológico do doente (contacto com cadáveres de pássaros) foram também pedidas serologias para Chlamydia psitacci e Febre Q. Foi iniciada doxicilina (cumpriu 21 dias), com posterior apirexia, sem necessidade de oxigenioterapia e com diminuição dos parâmetros inflamatórios. As serologias para Chlamydia psitacci foram negativas e da Febre Q positivas (IgG fase I 1/16 e II 1/32; IgM fase I 1/64M e II 1/64), confirmando-se o diagnóstico de Febre Q aguda. Mantém seguimento em consulta já com repetição de serologias de Febre Q com títulos IgM em fase decrescente e IgG em fase crescente.
DISCUSSÃO: A febre prolongada sem resposta à antibioterapia e o contexto epidemiológico do doente levantaram a suspeita de possível zoonose, com serologias posteriormente positivas para infecção aguda a Coxiella burnetti. A Febre Q aguda tem bom prognóstico se diagnosticada e tratada atempadamente, tal como aconteceu neste caso. Em casos raros poderá tornar-se crónica com implicações futuras graves nomeadamente endocardite, pelo que é crucial o follow-up destes doentes.