Eduardo Carvajal, Paula Araujo, Lorena Lozano, Mikhailo Ishakuk, José del Aguila, Juan Urbano.
Objetivo
Correlacionar variáveis da hipertrofia ventricular esquerda medida pelo índice de massa ventricular esquerda no ecocardiograma e a função renal medida pelos níveis da creatinina (lesões de órgão alvo hipertensivas) em doentes seguidos na consulta de hipertensão.
Antecedentes
A hipertensão arterial de longo prazo causa afetação micro e macro-vascular, principalmente nos rins, coração, cérebro e aparelho visual e vasos sanguíneos, conhecidas como lesões de órgão alvo. A sua severidade pode aumentar com o tempo de hipertensão não controlada. Alias, cada uma de estas lesões é entendida como um fator de risco preditor independente em doentes com risco cardiovascular já aumentado.
A HVE é o achado que carateriza melhor a afetação cardíaca crónica produzida por HTA. A melhor forma de ser medida é com RM, porém é um método complementar muito custoso e de difícil acesso, pelo que continua a ser utilizado o índice de massa ventricular esquerda calculado no ecocardiograma transtorácico modo M (padrão de normalidade em mulheres <95 e <115 em homens).
Por outro lado o cálculo da função renal é uma maneira rápida e de fácil acesso de determinar o grau de nefropatia hipertensiva, mais comummente entendida como a elevação da creatinina no soro. (>1.3mg/dl).
Materiais e métodos
Num estudo observacional, retrospetivo foram recolhidos 263 processos clínicos de doentes hipertensos de 2016 e 2017, sendo incluídos e analisados 166. Foi usado o programa SPSS edição 24.
Excluíram-se do estudo um total de 94 doentes por não ter hipertensão arterial comprovada medida por MAPA ou sem acesso aos exames complementares no processo clínico.
Resultados:
De um total de 74 mulheres e 93 homens, o valor do índice de massa ventricular esquerda esteve por cima da normalidade na maior parte dos homens (84) e em todas as 74 mulheres para um total de doentes de 158 (95.1%). Não foi sugestivo de HVE em 9 homens.
Enquanto ao dano renal, 14 homens e 5 mulheres tiveram uma creatinina sérica superior a 1.3mg, correspondentes a um total de 19 doentes (11.44%). O resto (144 doentes) mantiveram os níveis da função renal menores ou iguais a 1.3 de creatinina.
Quatro mulheres mostraram alteração conjunta da função renal e HVE, correspondente ao 5.4%, enquanto que coincidiram 6 homens com a afetação renal e cardíaca (6,45% da amostra masculina), 2 homens só tiveram afetação renal (2.15%) e 78 homens só mostraram valores sugestivos de HVE sem elevação dos azotados.
A média do índice da massa ventricular esquerda em homens foi 193.95 e em mulheres 171.01, alias, a média da creatinina em homens foi 1.04 e em mulheres 0.87.
Conclusões:
Evidencia-se uma importante correlação entre HTA não controlada e as lesões de órgão alvo. Perante estes resultados é importante pesquisar na consulta pela afetação independentemente dos diferentes órgãos envolvidos, o que vai ajudar na determinação do tempo de evolução da hipertensão arterial, a severidade e os melhores tratamentos de escolha.