Rita Rego, Isa Peixoto, Irene Marques, João Araújo Correia
Introdução
As adenopatias supraclaviculares esquerdas têm etiologia maligna em mais de 50% dos casos, sobretudo em indivíduos com mais de 40 anos. Estão classicamente associadas a neoplasias do pulmão e do trato gastrointestinal e a doenças linfoproliferativas.
Caso clinico
Homem de 66 anos, autónomo, com passado de etilismo e tabagismo. Internado por insuficiência cardíaca aguda de novo em contexto de infeção respiratória, cuja estudo etiológico identificou cardiopatia hipertensiva com fração de ejeção intermédia do ventrículo esquerdo e fibrilhação auricular persistente, tendo iniciado hipocoagulação. O exame objetivo inicial revelou adenomegalias supraclaviculares esquerdas volumosas de aparecimento recente. A tomografia computorizada toraco-abdominal-pélvica identificou várias adenopatias dispersas pelos planos cervicais, torácicos, abdominais e pélvicos, não tendo sido identificadas outras lesões suspeitas de malignidade. O estudo anatomopatológico da biópsia excisional do gânglio cervical identificou metástase de carcinoma pouco diferenciado com perfil imunohistoquimico de CK7-/CK20- encontrado no carcinoma da próstata, entre outros. O toque retal revelou próstata de consistência pétrea e identificou-se valor muito elevado de PSA sérico. A marcação imunohistoquimica de PSA no tecido da biópsia foi negativa mas verificou-se imunoreactividade nuclear para outro anticorpo NKX3.1, um marcador altamente sensível para o diagnóstico de adenocarcinoma da próstata.
No 5º dia de internamento desenvolveu enfarte cerebral da artéria cerebral média direita com hemiparésia esquerda, sob hipocoagulação. Com má evolução desde então, realizou biópsias prostáticas transretais numa altura em que apresentava uma deterioração importante do estado geral, tendo vindo a falecer nos dias seguintes. Post mortem confirmou-se a existência de adenocarcinoma acinar bilateral da próstata.
Discussão
O adenocarcinoma da próstata é a neoplasia mais frequente no homem acima dos 50 anos, com prognóstico razoavelmente favorável. A metastização ganglionar supraclavicular ocorre em menos de 1% dos casos, sendo ainda mais rara como manifestação inaugural, o que se verificou no caso que descrevemos. Num homem desta faixa etária, a presença de adenomegalias supraclaviculares deve levar à realização de toque retal e doseamento de PSA, ainda que seja uma apresentação atípica desta neoplasia frequente.