Cátia Correia, Ana Mestre, Yahia Abuowda, Ana Oliveira
Mulher de 60 anos, com antecedentes pessoais de hipertensão arterial e implantação de pacemaker DDDR há 4 dias por doença do nódulo sinusal, recorre ao serviço de urgência por dor no hemitórax anterior com irradiação para a axila esquerda. Encontrava-se hemodinamicamente estável com discreto aumento de tensão arterial (150/70mmHg), normocárdica, sem alterações ao exame objectivo ou exames analíticos. O electrocardiograma revelou ritmo de pacing auricular com ritmo ventricular próprio com spike sobreposto. No ecocardiograma transtorácico sumário verificou-se presença de derrame pericárdico ligeiro adjacente sobretudo às cavidades direitas, não se visualizando electrocatéter. A radiografia de tórax (imagem apresentada) revelou presença de eléctrodo do ventrículo esquerdo em posição extra cardíaca (lateral esquerda).
A doente manteve-se estável com medicação analgésica e foi transferida para um hospital central, onde o eléctrodo foi removido sem complicações e com encerramento espontâneo de orifício de perfuração. A doente teve alta para o domicílio, não apresentando novas complicações até à data.
A implantação de pacemaker acontece cada vez mais frequentemente, com o aumento da sobrevida e com o aumento das indicações para colocação dos mesmos. As complicações associadas a este procedimento acontecem em cerca de 3 a 6% dos casos, e podem ser imediatas ou tardias. As complicações mais frequentes são pneumotórax, pericardite, infecção, erosão de pele, hematoma, trombose venosa e deslocação de eléctrodo, sendo esta última mais frequente nos primeiros dois dias após implantação do aparelho.
Este caso traduz uma causa menos frequente de dor torácica, em que a história clínica e a realização de um exame de imagem de fácil acesso, a radiografia torácica, permitiram um diagnóstico rápido.