A enteropatia associada ao olmesartan foi descrita pela primeira vez em 2012 por Rubio-Tapia et al com subsequente inclusão pela “US Food and Drug Administration” de enteropatia grave “sprue-like” como reacção adversa ao fármaco. O diagnóstico baseia-se na suspeita clínica e na demonstração histológica de atrofia das vilosidades intestinais em doente com serologias de doença celíaca negativas. Clinicamente, apresenta-se como um quadro de diarreia grave crónica e com atingimento debilitante do estado geral. As biopsias duodenais mostram aumento das células T CD8+ e sobreexpressão pelas células epiteliais de interleucina-15, biomarcadores semelhantes aos encontrados em doentes com doença celíaca após exposição ao glúten. Está descrita regressão da atrofia das vilosidades duodenais e diminuição dos níveis dos biomarcadores inflamatórios após suspensão do olmesartan.
Apresenta-se o caso de uma mulher de 73 anos, hipertensa sob terapêutica dupla com amlodipina e olmesartan desde há vários anos. Iniciada, em 2016, clínica de diarreia crónica intermitente associada a dor abdominal difusa ocasional, diminuição do apetite e perda de peso involuntária até aos 8 kg. Os episódios foram autolimitados com algumas semanas de duração e atingimento do estado funcional. Em 2017, teve dois internamentos em enfermaria por acidose metabólica e um internamento em unidade de cuidados intensivos por acidose metabólica grave com pH à admissão de 7,0 e doseamento de bicarbonato sérico de 1,4mmol/L. Da extensa investigação realizada, foram excluídas causa infecciosa, oncológica, inflamatória de de mal-absorção. Após dezoito meses suspende olmesartan por suspeita clínica de enteropatia associada ao fármaco, tendo-se verificado resolução do quadro, sem recorrência até à data. Assumida enteropatia associada ao olmesartan apesar da ausência de confirmação histológica dado o extenso estudo prévio e a resolução clínica após suspensão do fármaco.
A enteropatia associada ao olmesartan é rara e habitualmente leva a um estudo diagnóstico exaustivo. A descontinuação do fármaco leva a uma melhoria clínica franca e à regressão das alterações histopatológicas associadas. Torna-se assim relevante o alerta à comunidade médica por forma a evitar diagnósticos tardios e complicações graves bem como meios complementares de diagnóstico desnecessários.