Pedro Pinto, Miguel Reis Costa, Rosana Maia, Duarte Silva, Emília Guerreiro, Carmélia Rodrigues, Diana Guerra
Introdução: O Síndrome maligno dos neurolépticos (SMN) é uma situação neurológica caracterizada por alteração do estado de consciência, rigidez, febre e disautonomia. A mortalidade ronda 10-20% e a incidência é de até 3% em doentes sob terapêutica com fármacos neurolépticos.
Caso clínico: Mulher de 80 anos, antecedentes de psicose afetiva, medicada habitualmente com haloperidol, risperidona e fluoxetina.
Trazida ao SU por apatia e tremor generalizado. Objetivada crise convulsiva. Apresentava-se vígil, com sinais de mordedura de língua, sem défices neurológicos focais, apirética. Do estudo efetuado destaca-se hiponatremia e hipocalémia. TC CE sem evidência de hemorragia ou lesão ocupante de espaço. Iniciou correção de distúrbios eletrolíticos mas por persistência de crises convulsivas e aparecimento de febre, fez punção lombar que não apresentava alterações. É admitida em Unidade de Cuidados Intensivos, realizado EEG com “padrão encefálico difuso grave com aspetos sugestivos de efeito farmacológico (…) sem atividade epileptiforme”. Notada rigidez muscular generalizada de predomínio crural, estase gástrica e elevação das enzimas de citólise muscular com creatinica cinase (CK) 1001 U/L. Colocada hipótese de SMN. Iniciada bromocriptina, com evolução favorável. Corrigidas alterações restabelecendo-se o equilíbrio hidroeletrolítico. Sob ventilação mecânica invasiva, extubada sem intercorrências. Readmitida em enfermaria a cumprir ordens simples. Manteve evicção de neurolépticos, terapêutica com bromocriptina e levetiracetam e iniciou plano de reabilitação motora com progressiva recuperação de autonomia.
Discussão: O diagnóstico de SMN centra-se na apresentação clínica e em estudo analítico compatível, após exclusão de causas secundárias. Corroboram-no a terapêutica com neurolépticos, alteração do estado mental, hipertermia, rigidez, disautonomia, CK elevada e alterações hidroeletrolíticas. O tratamento consiste em medidas de suporte, suspensão de neurolépticos e a correção dos distúrbios hidroeletrolíticos. Fármacos como bromocriptina, dantroleno e amantadina, apesar de não terem efeitos comprovados em ensaios clínicos são, com base em experiência clínica, utilizados.
Os autores consideram este caso clínico relevante, atendendo à necessidade de um elevado índice de suspeição para a identificação de SMN potenciando a rápida eliminação do agente causal e início de tratamento.