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MEDICAÇÃO INAPROPRIADA NOS DOENTES COM DEMÊNCIA AVANÇADA
Medicina Geriátrica - Comunicação
Congresso ID: CO045 - Resumo ID: 2115
Centro Hospitalar Universitário do Porto
Guiomar Pinheiro, Daniela Barroso, Cristina Torrão, Carolina Silva, Luísa Serpa Pinto, Ana Rita Cruz, Paulo Paiva, João Araújo Correia
INTRODUÇÃO: A demência avançada é uma doença terminal, na qual deve ser privilegiado o tratamento paliativo em detrimento do tratamento curativo, com a finalidade de controlar sintomas, e proporcionar uma melhor qualidade de vida ao doente. No entanto, estudos mostram que estes doentes estão frequentemente polimedicados com 5 a 15 fármacos por dia, muitos deles dirigidos ao tratamento de doenças crónicas. Neste sentido, um painel de especialistas em Geriatria e Cuidados Paliativos definiu uma lista de medicação de benefício questionável nestes doentes, tendo considerado que determinados fármacos nunca são apropriados quer por não apresentarem benefício nestes doentes, quer por serem deletérios na medida em que se associam a efeitos secundários, e representam uma despesa adicional para a família e sistemas de Saúde.
OBJECTIVO: Avaliar a manutenção de terapêutica considerada inapropriada em doentes com demência avançada após o internamento num serviço de Medicina.
MÉTODOS: Coorte retrospectivo, com uma amostra aleatória de doentes internados numa enfermaria de Medicina Interna entre 01-01 e 31-12-2018. Foram incluídos para análise doentes internados em determinadas camas escolhidas aleatoriamente numa enfermaria e seleccionados aqueles com demência. Consideradas terapêuticas inapropriadas (segundo painel de especialistas referido) os antidislipidémicos, antiagregantes que não a aspirina, quimioterapia, antiestrogéneos, antagonistas hormonais, antileucotrienos, hormonas sexuais, imunomoduladores, memantina e inibidores das colinesterases. Os doentes foram classificados como tendo demência avançada se apresentassem estadio Functional Assessment Staging Test (FAST)7c ou superior.
RESULTADOS: Incluídos 417 doentes durante o período do estudo, dos quais 27.1% (n=113) apresentavam demência. Trinta doentes (n=26.5%) apresentavam demência avançada. A maioria eram mulheres (63%,n=19), com idade média de 79.8 anos (DP+18.0) e estiveram internados em média 20.1 dias (DP+18.6). A maioria dos doentes apresentava situação de dependência total, com Karnofski performance status médio 27% (DP+8%). Cerca de metade dos doentes (47%,n=14) estavam inapropriadamente medicados à admissão hospitalar, na maioria dos casos com antidislipidémicos e antidemenciais. À data de alta, 16.7% (n=5) dos doentes encontravam-se medicados com estes fármacos. A mortalidade hospitalar neste grupo foi 33% (n=10).
CONCLUSÕES: Este estudo pretende consciencializar os profissionais de saúde para as particularidades do tratamento destes doentes e o efeito deletério que determinados fármacos podem provocar quando prescritos inapropriadamente, com intuito curativo. É necessário intensificar a atenção e combater a inércia clínica no sentido de não iniciar ou mesmo de suspender esta medicação. De referir que cerca de metade dos doentes à admissão e 16.7% à data de alta, se encontravam inapropriadamente medicados, pelo que ainda há espaço para melhoria dos cuidados prestados a estes doentes.