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NÃO BATE CERTO
Doenças cardiovasculares - Caso Clínico
Congresso ID: CC013 - Resumo ID: 2121
Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Unicor
Estefânia Turpin, Sara Santos, Francisco Gama, César Saura
Introdução: A cardiopatia congénita habitualmente é diagnosticada ao nascimento com sintomatologia grave ou incidentalmente em pacientes assintomáticos. No caso clínico seguinte, apresentou-se de ambas as formas.
Homem, 27 anos, autonómo nas actividades da vida diária, desempregado, antecedentes de cardiopatia congénita conhecida desde o nascimento, com seguimento regular na Cardiologia Pediátrica até aos 13 anos, quando abandonou a consulta. O ecocardiograma transtorácico (ETT) apresentava hipoplasia tricúspide, comunicação interventricular (CIV) com shunt esquerdo-direito (E-D), ventrículo direito (VD) pequeno, estenose valvular pulmonar, persistência do canal arterial (PCA) e comunicação interauricular. Sem medicação habitual. Sem alergias conhecidas. Sem hábitos tabágicos, alcoólicos ou toxicofílicos. Dirigiu-se ao Serviço de Urgência a 23/01 por quadro de tosse produtiva com expectoração purulenta, toracalgia direita de características pleuríticas e dispneia súbita. Do exame objectivo salientava-se frequência cardíaca (FC) de 37 batimentos por minuto (bpm), saturação periférica de oxigénio de 80%, sopro sistólico grau IV/VI audível em todo o precórdio e hipocratismo digital. Sem sinais de sobrecarga hídrica nem de baixo débito. Realizou ECG que evidenciou bloqueio auriculoventricular (BAV) completo com FC 37 bpm. Analiticamente: Hemoglobina 23.5g/dL, hematocrito 74.8%, proteína C reactiva 1.43mg/dL. Perante infecção respiratória em doente com cardiopatia congénita não seguida, poliglobulia e BAV foi decidido internamento.
Durante o internamento, realizou flebotomias e hidratação com ligeira descida do hematócrito. Manteve-se maioritariamente em BAV 2:1 Mobitz II, sempre assintomático.
Realizou novo ETT: ´CIV restritiva; Evidência de sobrecarga de volume do VE e de pressão do VD em provável relação com sobrecarga de volume por Shunt E-D (CIV/PCA) inicial com evolução para HTP. Estenose pulmonar e supra pulmonar moderada. Válvula tricuspide discretamente hipoplasica.´
Tendo em conta discrepância entre achados clinico e ecocardiográfico (cianose e CIV restritiva com shunt E-D) realizou ressonância magnética cardíaca e angio-tomografia computorizada cardíaca que identificou CIA tipo sinus venosus.
Tendo em conta estabilidade clinica, teve alta ao 4º dia de internamento com indicação para realização de Holter e cateterismo direito em ambulatório e referenciado a consulta de Cardiologia e Imunohemoterapia para avaliação da necessidade de novas flebotomias.

Conclusão: Este caso clínico destaca-se pela raridade das cardiopatias congénitas, sobretudo na idade adulta, sem tratamento; pelo facto de o doente se apresentar assintomático apesar do BAV com FC baixas, tendo-se optado por não implantar pace-maker; e pela discrepância entre os achados clínicos, que fariam pensar num shunt direito-esquerdo e ecocardiográficos, explicadas finalmente pela passagem de fluxo da VCI em direcção à cavidade auricular esquerda.