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FEBRE Q: É UMA REALIDADE EM PORTUGAL?
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P492 - Resumo ID: 2122
Hospital Santo António dos Capuchos - CHLC
Rita Lencastre Monteiro, Rui Nascimento, Rodrigo Leão, Cristina Lima, César Vieira, Ana Serrano, Dra Conceição Loureiro
Introdução: A febre Q é uma zoonose causada pela bactéria Coxiella burnetii, que em fase aguda se manifesta como síndrome febril, pneumonia ou hepatite. Dado o seu polimorfismo clínico e baixa incidência, é necessário um elevado grau de suspeição com base nos fatores de risco. Desde 1999 é uma doença de notificação obrigatória com cerca de 14 casos reportados entre 1999 e 2014.
Caso Clínico: Apresentamos um caso de pneumonia por C. burnetii num homem de 59 anos, caucasiano, sem antecedentes de relevo. Recorreu ao serviço de urgência (SU) por febre 39ºC, dispneia, sudorese noturna, cefaleias e náuseas, sem tosse, expectoração, toracalgia, mialgias, artralgias, alterações urinárias ou gastrointestinais. Mencionava contacto com cães e gatos não parturientes, sem viagens ao estrangeiro ou a zonas rurais e sem contactos de risco. Teria sido avaliado há cerca de três dias e medicado com amoxicilina/clavulanato e azitromicina. Na observação apresentavava palidez mucocutânea, temperatura timpanica de 39,4ºC e um exantema maculopapular, não pruriginoso, simétrico na região axilar com extensão até a região inguinal. Analiticamente com aumento dos parâmetros inflamatórios (neutrofilia de 81,3%, proteína C reativa 324,5 mg/dL), citólise hepática (AST 81U/L, ALT 71U/L) e colestase (yGT 106U/L, FA 206U/L). Na radiografia de tórax evidenciava-se uma consolidação no lobo superior direito confirmada por TAC torácica, que descrevia broncograma aéreo com áreas em vidro despolido de predominância anterior, sugestivos de pneumonia lobar e moderado enfisema centroacinar bilateral com densificações lineares retrácteis dispersas, e hipertrofias ganglionares mediastínicas. Foi internado para estudo etiológico. Pedidas hemoculturas, pesquisa de vírus da gripe, antigenúrias para Legionella pneumophila e Streptococcus pneumoniae, serologias para Mycoplasma pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae, VIH e IGRA que foram negativos. Por manter quadro febril escalou-se antibioterapia para piperacilina/tazobactam e foi realizada broncofibroscopia. Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes e exame cultural do lavado broncoalveolar foram negativos, mas identificada C. burnetii por pesquisa molecular de agentes de pneumonia atípica. Dada melhoria clínica, laboratorial e radiológica, optou-se por não instituir terapêutica dirigida com doxiciclina. Do estudo serológico realizado apresentam-se anticorpos IgG e IgM positivos para C. burnetti. Ecocardiograma transtorácico sem alterações valvulares. Reavaliado aos 3 e 6 meses, mantinha-se assintomático e com níveis de IgG <800, pelo que não houve progressão para a forma crónica da doença.
Discussão: Com este caso pretendemos relembrar a importância da suspeição clínica para a febre Q, presente nas nossas enfermarias, mas subdiagnosticada pelo seu diagnóstico desafiante e atraso no seu reconhecimento.