Hospital de Santa Maria - CHULN

Mulher de 71 anos, com antecedentes pessoais relevantes de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidémia, cardionefropatia hipertensiva e doença vascular cerebral, com elevada dependência e declínio funcional, internada por sépsis grave com ponto de partida urinário, com isolamento em urocultura e hemoculturas de Staphylococcus aureus resistente à meticilina e medicada com piperacilina/tazobactam e vancomicina. Salientava-se um sopro holossistólico suave grau II-III/VI audível em todo o precórdio, com intensidade máxima na área mitral, à auscultação cardíaca, e electrocardiograma em ritmo sinusal. Para exclusão de endocardite infecciosa foi realizado ecocardiograma transtorácico que mostrou uma massa pediculada móvel na face auricular do folheto anterior da válvula mitral (dimensões de 20x14mm), de aparência fibroelástica, condicionando insuficiência mitral ligeira a moderada. Não era sugestiva de vegetação de endocardite, tendo sido colocada a hipótese diagnóstica de fibroelastoma papilar, não sendo contudo possível excluir que se tratasse de um trombo pediculado.
O fibroelastoma papilar é uma entidade rara, benigna, geralmente assintomática e mais comum em idosos, representando 10% dos tumores cardíacos primários, sendo, entre aqueles com origem valvular, de longe o mais frequente (85% dos casos). Esta entidade pode permitir a formação de agregados fibrinoplaquetários à sua superfície, associando-se a risco de complicações embólicas e sistémicas, principalmente quando o tumor apresenta maiores dimensões, envolve as válvulas aórtica ou mitral e evidencia mobilidade - 3 aspectos presentes neste caso. A doente faleceu em contexto do quadro de sépsis, enquanto aguardava realização de ecocardiograma transesofágico. O diagnóstico anatomo-patológico macroscópico mostrou uma massa com 55x25mm na face auricular do folheto anterior da válvula mitral condicionando obstrução de 40% do lúmen, cujo exame histológico veio a revelar tratar-se, afinal, de um trombo.