Yair Gamboa, André Goulart, Alexandra Freitas, Almerindo Rego
Introdução: Tumores síncronas são definidos como a presença de duas ou mais neoplasias malignas primárias independentes no mesmo ou em diferentes órgãos dum único doente.
A incidência tem aumentado dramaticamente nas últimas décadas pela na melhoria dos cuidados médicos e aumento da sobrevida de algum tipo de neoplasias, levando os doentes a sobreviver tempo suficiente para desenvolver outras neoplasias primárias.
Caso clínico: homem, 62 anos, com antecedentes pessoais relevantes de insuficiência venosa crónica dos membros inferiores, patologia hemorroidária e tabagismo (20UMA), e antecedentes familiares de adenocarcinoma do cólon em irmã aos 50 anos, e adenocarcinoma do pulmão no pai, grande fumador, aos 68 anos.
Enviado a consulta após realização de colonoscopia electiva no contexto de PSOF positiva, que demonstrou polipose cólica extensa de todos os segmentos, incluindo lesão séssil, vegetante, dura ao toque da pinça, localizada ao ângulo hepático.. Encontrava-se assintomático, sem alterações ao exame objectivo ou no estudo analítico. A anatomia patológica (AP)dos pólipos revelou ´focos adenomatosos dispersos com displasia de baixo e alto grau; e adenocarcinoma moderadamente diferenciado, grau 2, pT1´.
Realizou TC-TAP de estadiamento: ´Opacidade pseudo-nodular (17x12mm), com contorno irregular e levemente espiculado, no lobo superior do pulmão esquerdo´. Biópsia pulmonar transtorácica: ´Infiltração por adenocarcinoma acinar e papilar´.
PET-TC: “Imagem de hipotransparência parenquimatosa conhecida no LSE de limites mal definidos e contornos espiculados, SUV máx de 1.3. Sem outras lesões suspeitas´.
Submetido a lobectomia superior esquerda, a AP revelou ´nódulo periférico corresponde a adenocarcinoma pulmonar acinar e papilar, com 12 mm de maior eixo, a 4 mm da superfície pleural´. Sem indicação para tratamento adjuvante.
Foi posteriormente submetido a colectomia total com anastomose ileorectal. AP: ´Peça de resseção intestinal com neoplasia vegetante e ulcerada a 120 mm da válvula ileocecal - adenocarcinoma intestinal bem diferenciado, pT2pN0. Polipose cólica extensa com DAG, DBG´. Foi confirmado risco familiar, pela detecção da mutação MUTYH.
Manteve seguimento em consulta de Oncologia, com evolução clínica favorável, mantendo-se assintomático, sem intercorrências de relevo até à data.
Discussão: A presença de lesões tumorais síncronas à data do diagnóstico são uma situação rara mas possível, e que deve ser suspeitada na presença de lesões tumorais díspares e isoladas, como se verificou neste caso. A sua correcta identificação teve papel essencial na abordagem terapêutica adequada ao doente em causa.