João Gramaça, Sara Garez Gomes, Teresinha Ponte, Filomena Carneiro, Fátima Campante
INTRODUÇÃO: Estima-se que mais de metade dos doentes médicos hospitalizados apresentem risco de eventos tromboembólicos venosos (TEV), risco esse que pode ser significativamente diminuído se existir uma boa prática em termos de profilaxia primária destes eventos.
Existem scores de risco validados para doentes médicos, cujos resultados mostram um benefício na prevenção de eventos com tromboprofilaxia adequada, como o Score de Predição de Padua. Acresce na decisão o risco hemorrágico individual do doente, sendo este estudado pelo International Medical Prevention Registry on Venous Thromboembolism, que demonstrou que os factores de risco independentes mais fortes para hemorragia à admissão são úlcera gastroduodenal activa, evento hemorrágicos nos 3 meses prévios e trombocitopenia com < 50 000/microL.
OBJECTIVO: Os autores propõem-se a avaliar o risco dos doentes internados num Serviço de Medicina Interna e a determinar se se encontra instituída uma tromoboprofilaxia adequada de acordo com o risco trombótico e hemorrágico.
MATERIAL E MÉTODOS: Este é um estudo descritivo exploratório com o objectivo de avaliar o risco de TEV em doentes médicos internados numa amostra de 32 doentes internados numa determinada data.
RESULTADOS: Dos 32 doentes internados, 6 apresentavam diagnóstico prévio ou de novo de fibrilhação auricular e 1 de TEV, encontrando-se anticoagulados com heparina de baixo peso molecular ou rivaroxabano em dose terapêutica.
Dos restantes 25, 36% (9) apresentavam um score de Padua < 4 (o valor considerado como cut off no estudo para tromboprofilaxia primária). Destes doentes, 3 (33%) encontrava-se medicado com heparina de baixo peso molecular em dose profiláctica.
Dos doentes com score de Padua > ou = a 4 (14 doente, ou seja 64%), 5 (35%) não se encontravam a cumprir tromboprofilaxia primária; 2 sem razão expressa e 3 por risco hemorrágico aumentado. A salientar que destes 3, 2 se encontravam a utilizar meias de compressão, sendo esta uma estratégia sub-óptima. Nenhum doente se encontrava sob compressão pneumática intermitente
Salienta-se assim que no cômputo geral, 20% dos doentes avaliados se encontrava incorrectamente hipocoagulados de acordo com as directrizes do score utilizado, quer por sobretratamento, quer por não utilização da tromboprofilaxia; 12% com indicação não estavam sob terapêutica por risco hemorrágico.
CONCLUSÕES: Os autores são da opinião que é necessária uma amostra maior para uma melhor caracterização da realidade do internamento hospitalar, quer num único centro, quer a nível nacional, com recurso a um score adequadamente validado. Destaca-se o facto de existir uma elevada percentagem de doentes com risco aumentado de TEV, sendo interessante o facto de tanto haver sobre como sub tratamento, o que destaca a relevância duma utilização correcta de ferramentas no sentido de aplicar as armas terapêuticas com critério.