Sara Martins, Ana Oliveira, Tânia Ferreira, João Neves, João Correia
Mulher de 78 anos, não fumadora, submetida a osteossíntese por fractura traumática do colo do fémur direito. Às 48h de internamento inicia dispneia em repouso e insuficiência respiratória tipo 1, sem sinais de compromisso hemodinâmico e sem clínica ou sinais sugestivos de infeção ou insuficiência cardíaca descompensada. Realizou Angio-TC torácico (Figura 1) na qual são visíveis sinais de tromboembolismo pulmonar agudo (seta roxa), pneumomediastino (seta vermelha), padrão em favo de mel (estrelas verdes) com bronquiectasias de tracção (setas azuis) e enfisema.
Considerou-se o tromboembolismo como secundário a trombose venosa profunda no contexto de imobilização e cirurgia, duas causas frequentes, e iniciou hipocoagulação. Evoluiu favoravelmente com resolução da insuficiência respiratória.
O padrão em favo de mel com enfisema subpleural e bronquiectasias de tração caracterizam a pneumonia intersticial usual. Este achado radiológico consiste num padrão típico, embora não patognomónico, da fibrose pulmonar idiopática, para cujo diagnóstico é necessária exclusão de outras etiologias de pneumonia intersticial. Do estudo etiológico identificou-se elevação dos anticorpos anti-nucleares (1/320) com padrão de matriz nucleolar e ectasia do esófago terminal; sugerindo fibrose pulmonar com características autoimunes. Não foi realizada broncofibroscopia no internamento por baixa reserva pulmonar (capacidade de difusão alveolocapilar de CO de 16%), tendo a doente sido orientada para prosseguir estudo em ambulatório.
O pneumomediastino, uma entidade rara, poderá ser secundária a barotrauma por ventilação mecânica em doente com provável síndrome restritivo grave decorrente da fibrose pulmonar. Neste caso, tal como acontece na maioria dos pneumomediastinos, o tratamento foi conservador.
Trata-se portanto de uma imagem com particular interesse uma vez que reúne achados que permitem afirmar três diagnósticos independentes entre si.