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PNEUMONIA E HEPATITE POR FEBRE Q AGUDA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P538 - Resumo ID: 214
Hospital Santo André - Centro Hospitalar de Leiria
Rita J. Rodrigues, Paula Gonçalves Costa, Marta Costa Gonçalves, Alcina Ponte
Introdução: A Febre Q aguda tem um amplo espectro de manifestações clínicas, reconhecendo-se três aspetos principais: síndroma gripal, hepatite e pneumonia. Este caso reúne estas condições, fascinando pelo desafio diagnóstico, que foi presuntivo até à confirmação serológica, disponível apenas após a realização do tratamento.

Caso clínico: Mulher, 55 anos, residente em vivenda onde contacta com aves de capoeira. Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro de febre alta, mialgias, tremores, astenia e cefaleias com 7 dias de evolução. Ao exame objetivo apresentava febre (39,8ºC), sem outras alterações. Analiticamente, destacava-se aumento da velocidade de sedimentação (61 mm/h), da proteína C reativa (139 mg/dL), das transaminases (AST 96 U/L, ALT 83 U/L) e da lactato desidrogenase (416 U/L); reação Weil-Félix positiva (título 1/160). Radiografia do tórax sem alterações. Iniciou-se doxiciclina empiricamente por suspeita de zoonose e internou-se por febre com foco por esclarecer. Após 7 dias de terapêutica, por persistência da febre, embora menos frequente, além de condensação pulmonar direita visível em tomografia computadorizada adicionou-se ceftriaxone e claritromicina, que cumpriu por 7 dias, com melhoria paulatina. Ao 17º dia de internamento foram disponibilizados os resultados das serologias pendentes, que revelavam anticorpos para Coxiella burnetti IgM e IgG anti-fase II positivos, títulos de 1/100. Doente admitiu ter sido picada por um inseto cerca de 15 dias antes do início das queixas. Assumiu-se, então, febre Q aguda e optou-se por prolongar doxiciclina por 3 semanas e introduzir um esquema curto de corticoterapia, com melhoria clínica franca e normalização das alterações analíticas. Em reavaliação analítica em regime de ambulatório, cerca de 6 semanas depois, verificou-se título de anticorpo IgG anti-fase II > 1/1600, confirmando assim o diagnóstico de febre Q aguda. O ecocardiograma transtorácico foi normal.

Discussão: A apresentação clínica da febre Q é inespecífica e o contexto epidemiológico nem sempre é claro, existindo um período de incubação de cerca de 20 dias, dificultando o diagnóstico. A suspeição é imperativa em doentes com fatores de risco para a doença que se apresentem com infeção aguda com febre prolongada, hepatite e pneumonia, especialmente se a contagem leucocitária for normal e se tiverem trombocitopenia e aumento das enzimas hepáticas. Confirma-se febre Q aguda quando os anticorpos anti-fase II são positivos com títulos IgG ≥ 200 e IgM ≥ 100 ou quando há uma quadruplicação do valor do título IgG anti-fase II entre a fase aguda e a convalescença (3 a 6 semanas).

O tratamento eletivo é a doxiciclina na dose de 100mg per os b.i.d. durante 14 dias, embora possa ser prolongado em casos particulares. A adição de corticoides ao tratamento antibiótico já não é formalmente indicada pelo risco de favorecer a evolução para doença crónica, mas pode ser utilizada em caso de clínica persistente ou resposta imunitária exacerbada.