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UM CASO RARO DE ENDOCARDITE AGUDA A FEBRE Q AGUDA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P476 - Resumo ID: 220
HOSPITAL DE SANTA MARTA, CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DE LISBOA CENTRAL
TORCATO MOREIRA MARQUES, DIOGO ANTÃO, LOURENÇO CRUZ, VALENTINA TOSATTO, CRISTIANO CRUZ, PAULA NASCIMENTO, ANDRÉ ALMEIDA, RITA BARATA MOURA
Coxiella burnetii é responsável por até 5% de todos os casos mundiais de endocardite. É quase sempre no contexto da forma crónica da Febre Q que esta entidade tem lugar, sobretudo mediada por fenómenos imunológicos. Existem no entanto alguns casos raros descritos de doença aguda com endocardite associada.

Os autores apresentam o caso de um homem leucodérmico de 79 anos, natural de uma área rural de Portugal, com história conhecida de cardiopatia hipertensiva e valvular com insuficiência cardíaca classe III NYHA, fibrilhação auricular hipocoagulada, DM tipo 2 sob anti-diabéticos orais, anemia crónica multifactorial.
Internado por um quadro de insuficiência cardíaca descompensada, 2 meses após substituição de válvula aórtica (estenosada por doença fibrodegenerativa), caracterizado por intolerância a pequenos esforços, dispneia paroxística nocturna e edema bimaleolar. A partir do 3º dia de internamento apresenta picos febris diários (>38ºC) e subida franca dos parâmetros inflamatórios pelo que, tendo em conta a colocação de prótese biológica recente, se colocou a hipótese de endocardite aguda. As hemoculturas (HC) foram negativas, ecocardiograma transtorácico e ecocardiograma transesofágico sugestivos mas não categóricos quanto à presença de vegetações e não se evidenciaram dados clínicos ou radiológicos de embolização periférica ou central. Realizada ainda PET que não evidenciou lesões hipermetabólicas valvulares, revelando várias adenopatias mediastínicas e supraclaviculares esquerdas, não patológicas por critérios tomodensitomátricos. Cumpridas quatro semanas de antibioterapia com Gentamicina e Vancomicina, sem que se tenha verificado remissão da febre.
No estudo complementar de presumível endocardite bacteriana com HC negativas, ressalva-se a presença de título IgG fase II 1:800 para Coxiella burnetii. Neste sentido, com ANA 1:160 +; VS 102 mm/h; electroforese com pico discreto alfa-1 e alfa-2, admitiu-se possibilidade de Febre Q aguda, hipótese corroborada após envio de amostras para o INSA (anticorpos fase II positivos 1:400 e fase I negativos, PCR negativa), Restante estudo imunológico revelou anticorpos anti Beta 2 IgM positivos (>100 UQ) e Ac. anti-cardiolipina IgM positivos > 60 UQ, interpretados também em contexto de fase aguda de Febre Q. Iniciada terapêutica antibiótica com doxiciclina 100 mg bid + hidroxicloroquina 300 3id, após início da qual se verificou resolução do quadro.

O presente caso serve para ilustrar a raridade da situação, assim como a dificuldade no diagnóstico de endocardite a febre Q sobretudo quando em fase aguda, tanto pela possibilidade de as vegetações serem de pequenas dimensões ou mesmo ausentes, assim como a variabilidade da apresentação no que diz respeito aos marcadores imunológicos.