23

24

25

26
 
PERICARDITE PURULENTA PRIMÁRIA A STREPTOCOCOS PNEUMONIAE, COM APRESENTAÇÃO EM TAMPONAMENTO CARDÍACO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P437 - Resumo ID: 233
Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho
Maria Ana Canelas, Inês Rueff Rato, Pedro Oliveira, Pedro Teixeira, Ana Raquel Barbosa, Ana Mosalina, Luís Afonso, Pedro Gil, João Valente
INTRODUÇÃO: A pericardite purulenta é uma entidade rara com taxa de mortalidade elevada. Os cocos gram positivos, especificamente o Streptococos pneumoniae, eram a causa mais comum de pericardite bacteriana em doentes com outro foco de infeção primário, ocorrendo por disseminação hematogénea ou por contiguidade com processo infecioso intratorácico. Desde o aparecimento dos antibióticos nos anos 40 e da vacina conjugada, a sua incidência caiu drasticamente. Os autores descrevem um caso raro de pericardite purulenta primária a streptococus pneumoniae com tamponamento cardíaco, em doente sem outro foco infecioso precedente identificado.
CASO CLÍNICO: homem de 40 anos, raça caucasiana, com antecedente de co-infeção pelo vírus da imunodeficiência humana em estadio SIDA, e vírus da hepatite C, com historial de incumprimento terapêutico. Recorre à urgência por dor torácica de características pleuríticas e síndrome constitucional com 2 semanas de evolução. Ao exame físico: tensão arterial 90-60mmHg; frequência cardíaca 110 batimentos por minuto; extremidades mal perfundidas; turgescência venosa jugular marcada a 45º e sons cardíacos hipofonéticos; gasimetria: acidose metabólica com acidemia e hiperlactacidemia. Realizado ecocardiograma transtorácico que revelou derrame pericárdico de grande volume com critérios de tamponamento. Submetido a pericardiocentese diagnóstica e descompressiva. Drenagem de 700ml de liquido amarelo turvo (leucócitos 35042/uL, 94% polimorfonucleares; glicose 2mg/dL; proteínas 6.3g/dL; desidrogenase do lactato 1348U/L), com consequente melhoria do perfil hemodinâmico. Admitido na Unidade de Cuidados Intermédios de Medicina, com dreno pericárdico em drenagem, e iniciada antibioterapia (AB) de largo espectro. Ao 4º dia de internamento descalada AB para ceftriaxone, por isolamento de streptococus pneumoniae no líquido pericárdico, segundo teste de sensibilidade. O restante estudo excluiu outro foco infecioso contíguo. Submetido a protocolo de fibrinólise intra-pericárdica com alteplase, de forma a otimizar a drenagem pericárdica e diminuir probabilidade de evolução com fisiologia constritiva. Retirou o dreno ao 11º dia, e apresentou evolução clinica e analítica favorável, tendo tido alta ao 16º dia, orientado para a clínica do antibiótico.
DISCUSSÃO:Na era moderna dos AB, a taxa de incidência da pericardite por streptococus pneumoniae diminuiu para 1/18000, com taxa de mortalidade a rondar 100% quando não tratada, e de 40% quando se realiza drenagem pericárdica e AB de largo espectro; as causas mais frequentes de mortalidade são o choque séptico, tamponamento ou pericardite constritiva. A identificação desta entidade é desafiante, já que se apresenta de forma atípica, e os sinais clássicos de pericardite podem estar ausentes. Desde 1980, menos de 25 casos de pericardite pneumocócica foram reportados, e menos de 10 de pericardite primária, pelo que os autores consideraram pertinente a sua apresentação.