Miguel Alves, Raquel Gil, Rita Silva, Maria João Castro, Rita Lopes, Diana Fernandes, Margarida Coelho, Tiago Ceriz, Sergio Alves, Adelaide Esteves, Eugénia Madureira
Introdução: A endocardite é uma doença infeciosa que se caracteriza pela proliferação de microrganismos no endotélio do coração, resultando em vegetações, que surgem no local da infecção. Incidência anual de 4 a 10 casos por 100.000 habitantes por ano. O Staphylococus aureus é o microrganismo mais frequentemente. O tratamento da endocardite infeciosa tem como objetivos a erradicação do microorganismo responsável e a resolução de eventuais complicações infeciosas e extracardíacas.
CASO CLÍNICO: Mulher, 75 anos de idade, parcialmente dependente, trazida ao serviço de urgência por vómitos e pico febril no próprio dia, concomitantemente com astenia e dispneia com um mês de evolução. Antecedentes de insuficiência cardíaca, hipertensão arterial e dislipidémia. Alergia à penicilina. À admissão com febre, hipotensão, taquicardia com saturações periféricas em ar de 94%. Consciente e orientada, palidez e sudoretica. Auscultação cardíaca sopro sistólico, grau III/VI e auscultação pulmonar crepitações bi-basais. Exames complementares de diagnóstico, analiticamente com elevação dos parâmetros inflamatórios e um proBNP muito elevado, sem outras alterações. Urina tipo II sem alterações. Radiografia torácica com apagamento dos seios costo frénicos bilateralmente. Ecografia abdominal, renal e vesical sem alterações. Realizou rastreio Séptico e iniciou Ceftriaxone empiricamente. No internamento realizou Ecocardiograma Transtorácico revelando Válvula aórtica calcificada, não se visualizaram imagens sugestivas de endocardite, esta não se podia totalmente excluir. Realizou Ecocardiograma Transesofágico revelando Vegetação na dependência de uma das cúspide da válvula aórtica concluindo endocardite da válvula aórtica. Suspendeu ceftriaxone iniciando empiricamente Vancomicina e gentamicina. O Rastreio séptico revelou em 2 hemoculturas positivas Streptococus dysgalactiae subespécie dysgalactiae (SDSD) multissensivel. Assumido o diagnóstico de choque séptico por endocardite infeciosa por SDSD multissensivel em válvula nativa, manteve antibiótico dirigido com Vancomicina. Durante o internamento apresentou uma melhoria clínica e laboratorial, estabilidade hemodinâmica e assintomática ao sétimo dia. Ao 20º dia reavaliou-se por ETE mantendo vegetação. Equacionou-se a intervenção cirúrgica mas atendendo à melhoria manteve tratamento médico. Reavaliada ao fim de 6 semanas de antibioterapia a doente teve alta orientada para consulta de cardiologia.
CONCLUSÃO: O presente caso clínico aborda a endocardite infeciosa por S. dysgalactiae subespecie dysgalactiae, um streptococcus do grupo C de Lancefield, que embora extremamente rara sabe-se que está associada a maior risco de complicações locais. É essencial uma atitude ponderada que avalie minuciosamente o risco/benefício da intervenção cirúrgica conjugada com as características do doente e a evolução clínica, analítica e imagiológica de modo a que seja tomada a melhor decisão terapêutica na altura mais benéfica.