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HEPATITE AUTOIMUNE EM DOENTE COM HEPATITE B E INFECÇÃO POR STRONGYLOIDES STERCORALIS
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P037 - Resumo ID: 240
Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca , Serviço de Medicina I
Whine Pedro, Marina Vitorino, Filipa Nunes, Alexys Borges, Mariana Costa, Marinela Major João Machado
Introdução: A hepatite autoimune (HAI) é uma doença crónica relativamente rara que afecta predominantemente mulheres em qualquer idade. É caracterizada por elevação das gamaglobulinas, autoanticorpos circulantes, antigénios de leucócitos humanos DR3 e DR4, hepatite de interface na biópsia hepática (BH) e resposta favorável à corticoterapia; tem diagnóstico diferencial com várias situações pelo que o seu diagnóstico deve ser de exclusão.
Caso clínico: mulher de 46 anos, negra, natural da Guiné Bissau, admitida por quadro arrastado de hepatalgia e perda ponderal. Negou febre, icterícia, prurido e aumento do volume abdominal. Tinha antecedentes de colecistectomia e HTA, medicada com Candesartan. Negou hábitos etanólicos.
À entrada: doente emagrecida com hepatomegália ligeira e dolorosa. Do estudo efetuado: Hb 12.5 g/dL, Leuc 4860, Eo 23,6%; provas de função hepática: AST 540 U/L, ALT 686 U/L, FA 111 U/L, GGT 198 UI/L, LDH 304 U/L, BilT 0.48 mg/dL, Amilase 139.7 U/L; IgE 2672 mg/dL e IgG 2570 mg/dL. Serologias virais: AgHbs+ AcHBe+ Ac Hbc+, EBV VCA IgM e IgG positivas; serologias VIH, VHA, VHC, VHE, CMV IgM foram negativas, o DNA VHB e a PCR EBV negativos. Eco abdominal: proeminência das vias biliares; TC- AP: fígado ligeiramente aumentado e discreta ectasia da bifurcação das vias biliares. Realizou Colangio-RM que excluiu dilatação das vias biliares. Realizou exame parasitológico das fezes que foi positivo para Strongyloides stercoralis e Ascaris lumbricoides, fez dois ciclos de Ivermectina com redução transitória das provas de função hepática e desaparecimento da eosinofilia. Fez-se excisão de adenopatia inguinal que foi negativa. A serologia autoimune foi positiva para ANA (1/320), Anti Ro52 (++) e Anti Mi2 (++); AMA negativo. Realizou BH: infiltrado linfocitário, hepatite de interface e balonização dos hepatócitos. Em face do quadro clínico, elevação flutuante das transaminases, hipergamaglobulinémia, ANA positivo e os aspectos da BH, admitiu-se o diagnóstico de HAI; iniciou prednisolona na dose 60 mg/dia, com melhoria clínica e laboratorial (AST 59 U/L, ALT 108 U/L, GGT 103 UI/L); teve alta, orientada para consulta de Gastro. Adicionou-se Tenofovir na dose de 245 mg/dia para prevenção de reactivação de infecção VHB.
Discussão: o caso apresentado ilustra as dificuldades do diagnóstico de HAI, uma vez que a doente tinha VHB crónica e apresentou-se com marcada eosinofilia que correspondeu a infecção por Strongyloides stercoralis. O diagnóstico de HAI foi sustentado pela apresentação clínica, elevação das transaminases, hipergamaglobulinémia, auto anticorpos circulantes positivos, resultado da BH e boa resposta clínica e laboratorial à corticoterapia.