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HEPATITE AUTO-IMUNE APÓS TOMA PROLONGADA DE RIFAMPICINA, UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
Doenças hepatobiliares - E-Poster
Congresso ID: P415 - Resumo ID: 246
Centro Hospitalar do Baixo Vouga
Flávio Pereira, Joel Pinto, Daniela Meireles, Mariana da Silva Leal, Paulo Almeida, Ana Rafaela Araújo, Susana Cavadas
Introdução: A Hepatite autoimune (HAI) é uma doença pouco prevalente, caracterizada por uma grande heterogeneidade de manifestações clínicas, laboratoriais e histológicas. O diagnóstico precoce da HAI é importante dado ter uma ótima resposta à imunossupressão, mas quando não tratada, resultar frequentemente em cirrose e falência hepática.
Caso Clínico: Mulher de 39 anos, obesa (IMC 30.85), com cirurgia recente a Hallux Valgus complicada por infeção local, medicada com rifampicina 600mg/dia durante 3 meses. Cerca de 2 meses após terminar o tratamento, recorreu ao Serviço de Urgência por escleróticas e pele com coloração amareladas e astenia com 5 dias de evolução. Ao exame objetivo, de salientar icterícia muco-cutânea e hepatomegália (fígado palpável cerca de 4cm abaixo do rebordo costal, indolor à palpação e com bordo regular). Analiticamente apresentava trombocitopenia (Plaquetas 138 X 109/L), coagulopatia (INR 1.3), citólise hepática (AST 1856 U/L, ALT 3374 U/L) e hiperbilirrubinémia (bilirrubina total 15.62 mg/dL, direta 11.05 mg/dL, indireta 4.57 mg/dL). A ecografia abdominal mostrou apenas aumento das dimensões do fígado, com contornos regulares e estrutura homogénea, confirmada por tomografia computorizada abdominal. Do estudo etiológico efetuado, destaca-se Velocidade de sedimentação aumentada (30mm/1ª hora), hipergamaglobulinémia (2660 mg/dL), Anticorpos (Ac) antinucleares e Ac anti músculo liso positivos (>1/1280, 1/40 respetivamente), Ac anti mitocôndria e anti microssoma fígado-rim negativos. Após exclusão de etiologias víricas, tóxicas e metabólicas, fez biópsia hepática transjugular, que revelou espaços porta com infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear e com plasmócitos, atividade de interface, com zonas de necrose hepatocitária, hepatócitos periportais com balonização e formação de rosetas hepatocelulares e na zona acinar 3 pontes necróticas centro-centrolobulares. Foi assumido o diagnóstico de HAI e a doente iniciou prednisolona 1mg/kg/dia, com ótima resposta clínica e analítica. Mantém-se em remissão, em seguimento na Consulta Externa, sob azatioprina 50mg/dia e redução de dose de prednisolona.
Discussão: A HAI continua a ser um desafio diagnóstico, baseando-se na clínica, na presença de autoanticorpos circulantes não específicos de órgão, associados a hipergamaglobulinemia policlonal e histologia típica ou compatível. A exclusão de outras etiologias de doença hepática crónica é fundamental e tem implicações terapêuticas, sendo a biópsia hepática é de extrema importância quando estão presentes múltiplas etiologias possíveis. A rifampicina em monoterapia está associada a hepatotoxicidade moderada, estando descrita como um potencial trigger de HAI, como no caso apresentado.