Arsénio Barbosa, Miguel Relvas, José Silvano, Catarina Ferreira, António Vieira-Lopes, Jorge Almeida
Introdução: A doença das lesões mínimas é a principal causa de síndrome nefrótico em crianças (cerca de 90% dos casos) e de menos de 10% dos casos em adultos.
Caso clínico: Apresenta-se o caso clínico de um homem de 85 anos com história de diabetes mellitus tipo 2 com pelo menos 10 anos de evolução, com razoável controlo metabólico com 3 fármacos, sem história de nefropatia ou outra lesão de órgão-alvo. Recorreu ao serviço de urgência por edema progressivo dos membros inferiores, associado a náuseas e vómitos com uma semana de evolução. À admissão, apresentava lesão renal aguda (ureia 191 mg/dL e creatinina 6,4 mg/dL(, hipoalbuminemia grave (1,6g/dL) e sedimento urinário com proteinúria nefrótica (>20g/dia em urina de 24h), sem eritrócitos dismórficos ou eosinófilos, tendo sido internado no Serviço de Medicina Interna para estudo de síndrome nefrótico. Por agravamento da hipervolémia, hiperfosfatémia e uremia refratária ao tratamento médico, iniciou técnica de substituição da função renal (TSFR).
Do estudo realizado, proteinograma sem pico monoclonal, imunologia (ANA’s, ANCA’s, FR, TASO e anti-MB glomerular) negativos, serologias víricas negativas para VIH, HCV e HBV, função tiroideia normal, biópsia da gordura abdominal negativa para susbtância amilóide, bem como TAC toraco-abdomino-pélvico sem alterações de relevo, com rins de dimensões normais. Para esclarecimento da lesão renal, foi realizada biópsia renal cujo resultado revelou alterações compatíveis com doença das lesões mínimas.
Por sépsis com ponto de partida não esclarecido, iniciou ceftazidima e vancomicina, entretanto esta última suspensa, com o conhecimento de urocultura e hemoculturas positivas para Pseudomonas aeruginosa sensível à ceftazidima e carbapenemos, tendo cumprido, no total, 14 dias de antibioterapia. A imunossupressão foi iniciada após estabilização do quadro infeccioso (prednisolona na dose de 1mg/kg/dia), tendo-se verificado melhoria progressiva da funçãoo renal com valores de creatinina plasmática de 2,8 mg/dL e recuperação da diurese, sem necessidade de TSFR.
Teve alta orientado para a consulta de Nefrologia onde completou 12 semanas de corticoterapia, mantendo remissão completa (proteinúria 0,21g/dia; albumina 36 g/dL e creatinina 0,98 mg/dL).
Discussão: Este caso pretende salientar a importância do estudo de síndrome nefrótico, com a colocação de vários diagnósticos diferenciais (infeções, neoplasia, fármacos, bem como doenças glomerulares) e a necessidade de biópsia renal para o diagnóstico definitivo.