Beatriz Porteiro, Mariana Costa, Filipa Nunes, Marina Vitorino, Whine Pedro, Alexys Borges, Marinela Major, João Machado
A tuberculosa óssea é uma entidade pouco frequente que corresponde a cerca de 10% dos casos de TB extra-pulmonar. Afeta predominantemente a região dorsal e lombar da coluna vertebral, de forma indolente, e habitualmente associa-se a abcessos paravertebrais. Os aspetos clínicos, laboratoriais e imagiológicos são inespecíficos sendo a biópsia percutânea guiada por TC o método de diagnóstico usual.
Caso 1: Mulher de 31A, melanodérmica, natural e residente em Angola, com história arrastada de lombalgia intensa, com irradiação para a face posterior da perna direita, associada a perda ponderal de 10Kg e posterior aparecimento de massa dolorosa na face interna da coxa direita com 12cm de maior eixo. Negou febre. Apresentava Hgb 10 g/dL, VS 40mm e serologia VIH negativa. Em TAC da coluna lombar identificou-se marcada destruição de L3-L4 associada a exuberantes abcessos do psoas à direita com envolvimento muscular da coxa e destruição óssea por contiguidade da coluna lombar e sagrada. Realizou biópsia do abscesso guiada por TC no qual a PCR para M.Tuberculosis complex foi positiva, no entanto os estudos culturais adicionais foram negativos. Iniciou antibacilares com terapêutica quádrupla, atualmente encontra-se em 8o mês de tratamento com melhoria progressiva e regressão do abscesso.
Caso 2: Homem de 34A, melanodérmico, natural da Guiné-Bissau, residente em PT desde 2008, admitido por quadro arrastado de lombalgia com agravamento progressivo e limitação funcional, associado a febre e perda ponderal de 11Kg. Objetivaram-se múltiplas adenopatias cervicais e inguinais. Analiticamente Hgb 11 g/dL, VS 94mm, serologia VIH negativa. No estudo imagiológico iniciado por TAC da coluna dorsal e lombar completado por RM foi evidente espondilodiscite em L4/L5 com colapso do espaço discal, com radiculite dos trajetos foraminais de L4 bilateral e de L1 à direita com abcesso prevertebral L4-S1 com 56mm de diâmetro crânio-caudal, múltiplos e volumosos abcessos paravertebrais desde L1 a S3, e abcesso das partes moles retrovertebrais entre L1 e L4. Apresenta também osteomielite D2 e D3 esquerdas com radiculite. Adicionalmente o TC Tórax favoreceu tuberculose miliar. Foi feita drenagem do abcesso guiada por TC. O exame direto do pus foi negativo. A PCR para M.tuberculosis complex foi positiva pelo que se iniciou tratamento. Atualmente está no primeiro mês de tratamento com resposta favorável, aguarda-se o resultado das culturas.
Os casos ilustram dois adultos jovens naturais de países endémicos com formas extensas e graves de mal de Pott. O diagnóstico foi estabelecido por PCR para M. Tuberculosis complex positiva no pús do abcesso com os correspondentes exames culturais negativos, ou em curso, o que pode explicar-se, de acordo com a literatura, pela baixa carga bacilífera descrita nestas formas de TB. O diagnóstico tardio condiciona o prognóstico destes doentes reforçando a importância da suspeição clínica nestes casos.