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INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADOS - UM PROBLEMA EM PORTUGAL
Urgência / Cuidados Intermédios e Doente Crítico - E-Poster
Congresso ID: P863 - Resumo ID: 278
Centro Hospitalar de São João
Inês Ferreira, Ana Monteiro, Tatiana Vieira, Vanessa Chaves, José Pereira
INTRODUÇÃO
Os organofosforados são a principal causa de morte por intoxicação relacionada com produtos agroindustriais em Portugal. São potentes inibidores das colinesterases, sendo capazes de causar toxicidade colinérgica severa, por excesso de acetilcolina nos recetores muscarínicos e nicotínicos.

CASO CLÍNICO
Doente de 74 anos, diagnóstico recente de demência, sem outros antecedentes de relevo, sem medicação habitual. História de ameaças de suicídio após o diagnóstico.
Encontrado no domicílio caído, com alteração do estado de consciência e incontinência de esfíncteres. No serviço de urgência com escala de coma de Glasgow 6 (O4V1M1), hipotenso e bradicárdico, pupilas mióticas, hálito a petróleo e sialorreia abundante. Gasimetricamente com acidemia mista e hipóxia com ratio pO2/FiO2 68, lactatos 8.7 mmol/L. Submetido a entubação orotraqueal e realizada lavagem gástrica e administrado carvão ativado, por suspeita de intoxicação com pesticida. Analiticamente com leucocitose e neutrofilia, sem outras alterações relevantes, nomeadamente função renal e coagulação normal. Pesquisa de drogas na urina e sangue negativos. Doseamento de colinesterases <1 U/L. TC cerebral sem alterações. Internado na Unidade de Cuidados Intensivos, após bónus de atropina e obidoxima.
Segundo familiares, presença em casa de frasco vazio de organofosforados (dimetoato).
Iniciou perfusão de atropina (variou entre 6-12.5 mg/h), que suspendeu ao 3º dia por resolução da broncorreia e sialorreia, e perfusão de obidoxina 10 mg/kg/dia durante 6 dias, com subida progressiva e consistente das colinesterases. Durante o internamento com início de fasciculações e epilepsia secundária a intoxicação por organosfosforados, com necessidade transitória de terapêutica anti-epiléptica, entretanto suspensa. Vários episódios de fibrilação auricular paroxística, tendo sido hipocoagulado.
O desmame ventilatório foi complicado com ARDS secundário a pneumonia associada ao ventilador por MSSA. Múltiplos ciclos de antibioterapia nesse contexto. Desmame de sedoanalgesia complicado por agitação. Traqueostomizado ao 36º dia de internamento. À data de alta da unidade, cumpria ordens simples de forma inconsistente, com miopatia do doente crítico. Poderia também ser ponderado o diagnóstico de neuropatia tardia induzida por organosfosforados, mas o dimetotato não é um dos agentes consistentemente implicados nesta entidade. Foi posteriormente orientado para unidade de convalescença para reabilitação.

DISCUSSÃO
A inibição das colinesterases torna-se irreversível em horas ou dias (fenómeno conhecido por “aging”). É essencial o reconhecimento rápido da intoxicação por organofosforados, já que o benefício do antídoto (oximas) só este existe se este for administrado antes do processo de “aging” da enzima. Trata-se de uma intoxicação grave e potencialmente fatal quando não reconhecida atempadamente.