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METÁSTASES OU ABCESSOS HEPÁTICOS? PORQUE NÃO AMBOS?
Doenças oncológicas - Caso Clínico
Congresso ID: CC087 - Resumo ID: 284
(1) Oncologia Médica, IPO do Porto; (2) Medicina Interna, Hospital Pedro Hispano
Marta Pina (1), Ana Isabel Lopes (2), Sara Moreira Pinto (2), Albina Moreira (2), António Furtado (2), Adelina Pereira (2)
Introdução:
A causa mais frequente de abcessos piogénicos hepáticos (AH) foi-se alterando ao longo dos anos. Atualmente, nos países desenvolvidos, a etiologia mais comum relaciona-se com patologia da via biliar, mas tem-se verificado um aumento dos AH decorrentes de doença oncológica e complicações inerentes ao seu tratamento. Contudo, a coexistência de AH e metástases hepáticas é rara (3% dos AH). Os agentes mais comuns nos AH são as bactérias Gram negativas, em particular a Klebsiella pneumonia. Em 90% dos casos o diagnóstico de AH é imagiológico (ponderado com a clínica e os exames laboratoriais), contudo, estes podem ter apresentações imagiológicas variáveis e mascarar metástases, pelo que poderá ser necessária a realização de uma biópsia para confirmação do diagnóstico. O tratamento de AH baseia-se em antibioterapia, drenagem percutânea e gestão do fator predisponente, se identificado.

Caso clínico:
Homem, 52 anos, com diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2, ex-fumador de 80unidades/maço/ano e cardiopatia isquémica com doença de 2 vasos submetido a angioplastia percutânea com colocação de 2 stents em 2018.
Doente recorre ao serviço de urgência por quadro com 24h de evolução de febre (temperatura máxima 38ºC), mal-estar geral, astenia e anorexia. À admissão o doente apresentava-se com aspeto macilento, desidratado e hipotenso (96/66mmHg). Analiticamente com anemia normocítica/normocrómica (Hb 9.2 g/dL), parâmetros inflamatórios elevados (leucocitose 27110/uL, proteína C reativa 260.10 mg/L), citocolestase (<2x limite superior do normal), lactato desidrogenase e ferritina elevadas (691 U/L e 639.41ng/mL, respetivamente). Estudos imagiológicos a mostrar hepatomegalia com múltiplas formações nodulares (a maior com 7,5cm). Pela dúvida sobre etiologia infeciosa ou neoplásica das lesões foi realizada biópsia e iniciada antibioterapia empírica (amoxicilina/ácido clavulânico e clindamicina). No tecido excisado identificou-se Klebesiella pneumoniae ESBL positiva e histologia compatível com metástase de adenocarcinoma com origem gastrointestinal. Como tal, alterou-se antibioterapia para ertapenem (que cumpriu durante 21dias) e realizou estudos endoscópicos que evidenciaram lesão gástrica com histologia compatível com adenocarcinoma bem diferenciado HER2 positivo. Mediante o diagnóstico de adenocarcinoma gástrico estadio IV HER2 positivo iniciou quimioterapia paliativa com ciclofosfamida e transtuzumab.

Conclusão:
O presente caso clínico pretende rever o estudo etiológico de lesões hepáticas, salientando a dificuldade do diagnóstico diferencial entre metástases e AH e a raridade da co-existência destas duas entidades.