Marina Vitorino, Filipa Nunes, Whine Mota Pedro, Mariana Costa, Beatriz Porteiro, Alexys Reis Borges, Marinela Major, João Machado
Introdução:
O AVC isquémico de causa embólica requer investigação sistematizada antes de ser designado criptogénico. Em doentes jovens que se apresentam com AVC sem causa aparente é mandatória a consideração de FOP. No entanto, a maioria dos estudos relativos à investigação de FOP não inclui doentes com idade superior a 60 anos. Aliás, dada a prevalência de FOP na população em geral, é provável que, em muitos casos, a FOP diagnosticada seja incidental, particularmente nos doentes mais idosos. A embolia paradoxal é o mecanismo do AVC que faz evocar FOP.
Caso Clínico:
Doente, sexo masculino, de 69 anos com HTA e DM sob insulinoterapia, seguido no IPR com os diagnósticos de LES e AR, sob 20 mg de prednisolona. Foi admitido por hematoquézia, com Hb 6,6g/dL, pelo que realizou colonoscopia que demonstrou diverticulose cólica. No internamento desenvolveu quadro súbito de parésia facial esquerda tipo central e hemiparésia esquerda de predomínio braquial, precedido e acompanhado de febre, tosse e dispneia com hipoxémia. A TC-CE sem contraste não demostrou alterações agudas e a RM-CE revelou múltiplas lesões isquémicas em ambos os hemisférios cerebrais e hemisfério cerebeloso direito. A punção lombar foi negativa. Adicionalmente fez angio-TC-tórax com aspectos compatíveis com trombo endoluminal no ramo interno da artéria interlobar inferior direita. As hemoculturas e o ecocardiograma transtorácico foram negativos. A ecografia-doppler dos vasos do pescoço não mostrou alterações carotídeas ou vertebrais significativas. Perante a presença de AVC isquémico e embolia pulmonar procedeu-se a ETE com soro agitado que mostrou passagem precoce de microbolhas de AD para AE através de foramen ovale; sem evidência de imagens sugestivas de vegetações. O doente, a par de antibioterapia de largo espectro, iniciou tratamento com anticoagulação assistindo-se a melhoria clínica, sendo referenciado à data da alta para consulta multidisciplinar com Cardiologia e Neurologia.
Discussão:
No caso apresentado, apesar da idade do doente e da presença de factores de risco cardiovasculares, perante a evidência de tromboembolismo paradoxal, o diagnóstico de FOP foi evocado e confirmado com ETE com soro agitado. Os estudos recentes sobre a melhor abordagem terapêutica de FOP excluem doentes com idade superior a 60 anos; o nosso doente foi tratado com êxito com anticoagulação e foi referenciado para posterior avaliação sobre o benefício de eventual correcção cirúrgica.