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INFEÇÃO RESPIRATÓRIA PERSISTENTE EM DOENTE FUMADORA, EM QUE PENSAR?
Doenças respiratórias - E-Poster
Congresso ID: P815 - Resumo ID: 293
Hospital CUF Porto, Porto, Portugal
Catarina Borges Fernandes, Margarida Pereira e Alvelos, Paulo Bettencourt
Introdução: A Bronquiolite respiratória associada a doença pulmonar intersticial (RB-ILD) é uma entidade rara, em que as alterações patológicas da bronquiolite respiratória estão associadas à evidência clínica de doença pulmonar intersticial, num doente fumador. O seu reconhecimento é importante, pois a estratégia terapêutica é específica e pode abortar a evolução para formas crónicas e graves de doença pulmonar intersticial. Apresentamos, assim, um caso clínico típico de RB-ILD com objetivo de sensibilizar para a sua relevância.
Caso clínico: Mulher de 31 anos, fumadora, com antecedentes de lúpus discoide medicada com hidroxicloroquina, recorre múltiplas vezes ao atendimento permanente por quadro subagudo de tosse produtiva e toracalgia de características pleuríticas, sem febre. Para além de tratamento sintomático, cumpriu dois ciclos de antibioterapia, com claritromicina e posteriormente moxifloxacina, mantendo persistência das queixas. Na auscultação pulmonar apresentava sons respiratórios rudes, crepitações e sibilos dispersos. Analiticamente exibia aumento dos marcadores inflamatórios sistémicos com leucocitose e elevação da proteína C reativa. O Raio-X do tórax mostrava apagamento do ângulo costofrénico direito e reforço perihilar, sem imagens de condensação. A avaliação funcional respiratória revelava diminuição da capacidade de transferência alvéolo-capilar do monóxido de carbono (DLCO), com prova de broncodilatação negativa e restantes parâmetros funcionais sem alterações. Realizou tomografia computorizada torácica que mostrava nódulos centrilobulares, com densificação em vidro despolido, dispersos de forma difusa e bilateralmente. Foi realizada videobroncoscopia, que expunha fenómenos difusos de bronquite e secreções mucopurulentas em toda a árvore brônquica. O exame microbiológico e celular do lavado bronco-alveolar não mostrou alterações relevantes. A doente iniciou corticoterapia e evicção tabágica, com melhoria clínica e imagiológica, tendo permanecido assintomática durante cerca de 3 anos, altura em que apresenta, novamente, clínica respiratória caraterizada por tosse produtiva com expetoração mucopurulenta e dor pleurítica. Na avaliação verificou-se que a doente tinha retomado hábitos tabágicos. Cumpriu um ciclo de antibioterapia e corticoterapia, verificando-se cessação das queixas. Após resolução do quadro, repetiu estudo funcional respiratório que apresentava diminuição da DLCO, com parâmetros espirométricos dentro da normalidade. A doente manteve-se em seguimento, tendo cumprido abstinência tabágica, sem nova recidiva sintomática.
Discussão: Este caso clínico, no qual se apresenta uma doente fumadora com queixas respiratórias arrastadas, sugerindo infeções respiratórias de repetição, ilustra a necessidade do estudo adicional destes doentes e invoca a necessidade absoluta de evicção tabágica nos casos em que o diagnóstico de RB-ILD se confirma.